Lideranças de todo o país participaram de oficinas e vivências sobre gênero e raça
Por Stella Tó Freitas
Nos dias 11 e 12 de maio, o programa “Fortalecer”, parceria entre o Instituto Gesto e o Vetor Brasil, realizou um encontro de gestores públicos de diversos estados do Brasil para fomentar o debate sobre a equidade étnico-racial e de gênero na administração pública.
A conferência, promovida no Rio de Janeiro, se baseou no recém-lançado documento “Recomendações para a Promoção de Equidade Étnico-Racial no Serviço Público Brasileiro”, organizado pelo Movimento Pessoas à Frente.
O evento teve como objetivo apontar os avanços e os desafios da promoção da equidade racial e de gênero nas políticas de gestão de lideranças, além de oferecer capacitações por meio de letramento racial e de uma oficina de construção de compromissos e planos de ações com lideranças em governos.
Para o cientista social Diogo Lima, coordenador de Portfólio da República.org e membro do Movimento Pessoas à Frente, é fundamental que os governos promovam o acesso de pessoas negras e de mulheres aos espaços de liderança da administração e, prioritariamente, se comprometam com a permanência desses servidores.
“Em um estudo de implementação, a partir das nossas experiências em estados, nós reparamos que das posições de lideranças que foram ocupadas ao longo de quatro anos no último ciclo de governo, as mulheres e pessoas negras que saíam eram as únicas que saíam por motivos políticos ou outras que não fossem ascensão de carreira”, destacou o especialista ao compor uma das mesas.
Dados do levantamento da República.org “Onde estão os negros no serviço público?” revelam que, apesar de serem maioria na esfera pública municipal, as mulheres negras estão presentes em 22,9% dos cargos de gestão. O estudo mostra, ainda, que a média salarial de homens brancos supera em 117% a média salarial de mulheres negras.
Presidente do Instituto Fundação João Goulart, da Prefeitura do Rio de Janeiro, Rafaela Bastos informou que o município tem levantado dados sobre equidade de gênero e raça para mapear a burocracia representativa. “É importante a gente produzir estudos internos para entender as nossas realidades, não apenas absorver as narrativas, os discursos e os conceitos, é preciso também olhar os dados”, afirmou.
Na mesa, que discutiu a promoção da equidade nas políticas de gestão, também foi abordada a relevância de gestores pensarem, criarem e implementarem ações para a administração. “As lideranças públicas são pessoas que estão no cerne da eficácia de governo”, defendeu Julimária Sousa, coordenadora de Implementação de Projetos no Instituto Gesto.
O encontro chamou atenção para o grande desafio que é incluir todas as diversidades na esfera pública, sobretudo por estruturas excludentes, como o racismo e o machismo. Na ocasião, também foi divulgado o Programa FIAR – Formação e Iniciativas Antirracistas, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap)
Uma vivência na Pequena África, na área central do Rio de Janeiro, concluiu as atividades. Na visita ao local, os gestores e participantes puderam conhecer a memória histórica e cultural dos africanos trazidos ao Brasil durante o período escravagista. O tour de cerca de duas horas percorreu os principais marcos históricos afro-brasileiros da capital, como Cais do Valongo, Pedra do Sal, Largo da Prainha e Cemitério dos Pretos Novos, no bairro da Saúde.
“Fortalecer” visa resultados estratégicos
O programa apoia estados e municípios na construção e implementação de políticas para suas lideranças, a fim de desenvolver profissionais públicos comprometidos em entregar resultados para a sociedade.