Criada para auxiliar na construção de políticas de gestão de pessoas, República em Dados inova na visualização de informações
A plataforma online República em Dados, que será lançada nesta terça-feira, 18 de julho, apresenta uma proposta inédita: ela compila e organiza em um único lugar as fontes mais relevantes de dados relacionados à gestão de pessoas no setor público brasileiro.
Desenvolvido pela República.org, o novo projeto desagrega informações estatísticas de bancos públicos e pesquisas nacionais e internacionais, com o objetivo de identificar padrões e tendências sobre quem são e como estão distribuídos os profissionais públicos dos três níveis governamentais: municipal, estadual e federal.
O site também usa esses dados para desconstruir mitos, como o do inchaço da máquina pública.
Informações precisas e compreensíveis
Os dados da plataforma, que podem ser visualizados em gráficos de fácil entendimento e navegação, revelam aspectos da estrutura de pessoal do Estado, como a evolução de ações afirmativas, perfis de liderança, salários e vínculos.
A ferramenta está disponível no endereço emdados.republica.org e tem como principais objetivos promover a transparência de dados sobre o serviço público no Brasil e incentivar a elaboração de políticas para valorizar os servidores, conforme explica Vanessa Campagnac, doutora em ciência política e gerente de Dados e Comunicação da República.org.
“Informações são essenciais para tomadas de decisão por parte de governos em todo o ciclo das políticas públicas, incluindo planejamento, implementação, monitoramento e avaliação. Para a área de gestão de pessoas não seria diferente: focalização e priorização de ações devem sempre ser realizadas a partir de um diagnóstico fidedigno baseado em dados”, defende a especialista.
Recurso para gestores, acadêmicos e jornalistas
A República em Dados levou cerca de um ano para ser concretizada, com Vanessa e Paula Frias, analista de Dados da República.org, na coordenação do trabalho. Elas tiveram o apoio de uma equipe multidisciplinar para o tratamento das informações e a concepção da interface da plataforma, que privilegia a usabilidade.
“Nossa intenção é alcançar públicos diversos”, destaca Paula, mestre em ciência política. Além de reunir e destrinchar dados-chave para a transformação da gestão pública de pessoas, a República em Dados conta com uma biblioteca de estudos organizados periodicamente pela República.org para auxiliar não apenas gestores, mas também acadêmicos e jornalistas na promoção do debate público e no enfrentamento dos desafios do funcionalismo.
Combate às fake news
A plataforma ainda tem a proposta de esclarecer informações falaciosas que desmotivam a população sobre a importância dos serviços públicos para a promoção do seu bem-estar.
Por meio da ferramenta, é possível descobrir, por exemplo, que 70% dos profissionais públicos recebem remuneração de até R$ 5 mil (e não supersalários), que mais da metade dos servidores do país atua nos municípios (e não em Brasília) e que não há inchaço na máquina pública brasileira (como é mostrado em uma comparação com outros países).
“Com os dados, conseguimos superar esses estereótipos”, afirma Paula.
O papel da coleta de dados
Realizada em diálogo com representantes de plataformas como o Atlas do Estado Brasileiro, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e o infoGOV, da Enap (Escola Nacional de Administração Pública), a República em Dados surge diante de um cenário de pouco investimento em pesquisas voltadas à gestão pública no Brasil.
“Avançamos ao longo das últimas décadas, mas vimos também um baixo estímulo à construção de conhecimento nos últimos anos. Ou seja, precisamos — e podemos — nos conhecer melhor a partir de coletas de dados e pesquisas e estudos baseados neles”, avalia Vanessa. “Uma maior capilaridade das pesquisas nas diversas regiões do país, atualizações periódicas das bases públicas existentes e maior transparência dessas informações para os cidadãos”, ela defende, são medidas essenciais para fortalecer a gestão baseada em dados.
Coordenador-geral de ciência de dados da Enap, Pedro Masson lista a “batalha de interpretações em torno da Lei Geral de Proteção de Dados” como um dos entraves para a coleta e o uso de dados pela gestão pública. “Muitos órgãos adotam interpretações que inviabilizam o compartilhamento de dados, impossibilitando a realização de estudos sobre as políticas e os serviços públicos”, sinaliza.
Uma outra barreira, de acordo com o especialista, diz respeito ao recrutamento e à formação dos servidores públicos. “Com a baixa dos concursos públicos dos últimos anos, poucos órgãos foram capazes de selecionar servidores com competência para lidar com os dados”, diz.
Para Pedro, os dados são indispensáveis para o desenvolvimento de políticas públicas. Ele relata uma experiência recente ligada a uma avaliação divulgada em maio pela Enap, em colaboração com o Ministério da Igualdade Racial. Dados desse levantamento inédito apontaram que a forma atual de implementação da Lei de Cotas no serviço público não é suficiente para garantir a reserva de 20% das vagas para pessoas negras. “Antes dessa avaliação, inexistiam dados sobre servidores cotistas no serviço público, o que impossibilitava avaliar a efetividade da política”, conta. “Sem esses dados não poderíamos redesenhar a política para que ela seja, de fato, efetiva.”