Autora divide o tempo como enfermeira do SUS na capital paulista
Por Carla Nascimento
A Casa República.org na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) abriu suas portas nesta quinta-feira (23) com lotação máxima e debates acalorados sobre os desafios do serviço público no Brasil.
Lilia Guerra, servidora pública e escritora, junto ao jornalista Paulo Werneck, manteve a atenção do público ao discutir o desafio de lidar com problemas públicos nas cidades, sobretudo nas periferias, e como transformar essas vivências em arte — ou em literatura, como ela faz.
Auxiliar de enfermagem em uma instituição pública e moradora do bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, a autora está familiarizada com os problemas enfrentados pelas periferias, especialmente na área de transporte.
Em seu novo livro, “O Céu para os Bastardos” (ed. Todavia), alguns desses problemas emergem no cotidiano da protagonista: “A personagem tem um grande dilema pessoal, mas as questões exteriores (os problemas públicos) fazem com que tudo se torne mais difícil. Então, por que não pontuar isso no livro? Nem todo mundo consegue entender como os problemas urbanos afetam as pessoas. Tem gente que sempre viveu em São Paulo, por exemplo, e não entende tanto os problemas de deslocamento”, explica Lilia.
Ela acrescenta: “Ninguém nunca quis ir à minha casa, porque moro longe, então, quando alguém quer ir à minha casa, eu digo ‘por favor, vá à minha casa’. Às vezes, alguém chega dizendo que foi muito difícil chegar até lá, e respondo: ‘Eu chego aqui há 30 anos!'”.
Para a escritora, a má qualidade dos serviços públicos pode afetar não apenas as relações de trabalho, mas também a saúde das pessoas: “Quando você entra no ônibus lotado, vê que todos estão muito estressados. No metrô, a mesma coisa: em São Paulo, muitas vezes as portas se fecham e o metrô suspende as operações. Aí você precisa ir de ônibus, que demora mais para chegar, e corre o risco de ser demitido. A má qualidade do serviço público afeta a saúde das pessoas, direta e indiretamente”, destaca.
Contribuiu Pamela Leme.
