Projeto oferece reabilitação para que portadores de baixa visão tenham acessibilidade e inclusão no AP

Publicado em: 18 de junho de 2024

“Núcleo de Baixa Visão” é um dos finalistas na categoria Saúde do 6º Prêmio Espírito Público

Por Célia Costa — Especial para República.org

Acessibilidade, inclusão e reinserção no mercado de trabalho são algumas das metas do “Núcleo de Baixa Visão”, no Amapá. Implantado em 2015, o centro funciona na Universidade Federal do Amapá (Unifap) e atende 200 pessoas que precisam de acompanhamento.

Durante a reabilitação, os pacientes contam com atendimento de especialistas em baixa visão, fazem exercícios e recebem orientações e equipamentos que auxiliam na melhoria da visão residual, como lupas manuais e telescópios, além de bengalas verdes, que têm o objetivo de identificar quem tem baixa visão.

A terapeuta ocupacional e servidora Alessandra Soares. Foto: Divulgação.

“Tivemos pacientes com visão residual que tinham prescrição de auxílios ópticos e não ópticos, equipamentos que proporcionam mais independência de trabalho e funcionalidade. A maioria não tinha recursos para comprá-los. Ao perceber a dificuldade, o projeto baixa visão foi implementado”, explica Alessandra Feijão, terapeuta ocupacional e coordenadora do núcleo.

As pessoas faziam viagens longas, pagas pelo Programa de Tratamento Fora de Casa (TFD). Para os que vivem em locais mais distantes, a viagem dura um dia de barco até Macapá. Depois, é preciso pegar um avião para Pernambuco, algumas vezes com escalas em Belém ou Brasília. Ao perceber as dificuldades de acesso para os pacientes, a Fundação Altino Ventura propôs a implementação do projeto.

“A maioria dos nossos pacientes são quilombolas, ribeirinhos e indígenas, o que dificultava o acesso e fazia com que alguns não dessem prosseguimento ao tratamento. Alguns não conseguiam nem dar entrada no pedido para receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC) pago pelo INSS. Alguns desses pacientes precisam fazer uma viagem de barco que dura um dia para chegar a Macapá”, afirma Alessandra.

O projeto “Núcleo de Baixa Visão” é um dos finalistas na categoria Saúde do 6º Prêmio Espírito Público (PEP), que reconhece e valoriza profissionais públicos. A premiação é uma realização da parceria Vamos.

O núcleo tem 800 pessoas cadastradas; no entanto, atualmente, 200 continuam recebendo acompanhamento. Além da população do estado, o serviço é disponibilizado para moradores das cidades de Afuá, Breves e Chaves, todas localizadas no Pará.

Serviço participa de missões para povos indígenas do extremo norte do país

Com dificuldades de chegar até as pessoas que vivem em locais mais distantes, o núcleo busca constantemente parcerias, como participação em missões que envolvem várias instâncias de governo. Em 2019, integrantes do núcleo se juntaram ao grupo de 60 pessoas no Projeto PET-Saúde Indígena Interprofissional, do Ministério da Saúde, que teve a participação de alunos, profissionais da saúde das redes municipal, estadual e federal, professores e voluntários. A missão foi para o Oiapoque, no extremo norte do Brasil, tendo como destino as aldeias Kumarumã e Kumenê.

Foram sete horas de lancha voadeira até a primeira aldeia. Alessandra Feijão conta que alguns pacientes com baixa visão foram levados para Macapá e ficaram na casa de acolhimento enquanto faziam o tratamento.

Alguns desses pacientes precisam fazer uma viagem de barco que dura um dia para chegar a Macapá.

Alessandra Feijão Soares, coordenadora do “Núcleo Baixa Visão”

A baixa visão é uma condição intermediária entre a cegueira e a possibilidade de enxergar completamente. Também é chamada de visão subnormal, que se apresenta de maneiras muito diferentes. No núcleo, crianças de zero a sete anos são separadas dos demais. Nesses casos, o tratamento é de responsabilidade da oftalmologista Maira Tongu Nazima, também coordenadora do núcleo.

Atendimento a mulher indígena durante missão ao Oiapoque. Foto: Divulgação.

Enquanto isso, as demais idades são encaminhadas para a reabilitação com a equipe de Alessandra. O problema da baixa visão não pode ser corrigido. O trabalho da reabilitação visa frear o avanço da doença e possibilitar que a pessoa aprenda a conviver com as limitações e adquira autonomia.

O embrião do projeto foi o teste do olhinho, que possibilitou a detecção precoce de doenças como catarata congênita, que pode ser resolvida com cirurgia, e até câncer. “Naquela época, em 2012, o estado não tinha o teste do olhinho. Foi implantado, mas enfrentamos muita resistência das mães no começo. Algumas, por desconhecimento, não permitiam. Hoje, a situação se inverteu. Quando não conseguem fazer na maternidade, as mães procuram os serviços oftalmológicos, o que aumenta as chances de tratamento dos bebês”, diz a coordenadora.

Com treinamento, advogado quer praticar esportes radicais

Um exemplo do que pode ocorrer devido à ausência desse teste é o caso do advogado Hilarielton Monteiro Picanço, de 33 anos. Quando ele nasceu, em 1991, o teste não estava disponível. O prematuro Hilarielton, de seis meses, tinha retinopatia da prematuridade, uma condição que pode ser corrigida com cirurgia se descoberta na infância.

Já adulto, com deficiência visual, apesar das limitações, conseguiu dar continuidade aos estudos e concluir o curso e especialidades de Direito. Aos 31 anos, ele precisou ir ao núcleo atualizar o laudo de baixa visão. Naquela época, recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC), sua única fonte de renda.

“Em 2022 passei no concurso. Tomei posse em junho de 2023 e o meu BPC foi suspenso. Quis o destino, agora trabalho no setor de concessão do BPC. Minha vida mudou. Com a reabilitação no núcleo, consegui frear a perda de visão e ganhei mais autonomia. Continuo fazendo reabilitação e treino para praticar esportes radicais para quem tem baixa visão, que será mais uma futura atividade do núcleo”, relata o advogado.

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