Iniciativa é finalista do 6° Prêmio Espírito Público na categoria Gestão de Pessoas
Por Célia Costa — Especial para República.org
Criado em 2020, o LideraGOV desenvolve lideranças na administração pública federal, selecionando e preparando líderes inovadores. Em sua quarta edição, o programa busca construir uma rede de servidores públicos com alta capacidade de gestão e liderança, aptos a ocupar cargos estratégicos e promover melhorias nos serviços oferecidos à população.
Alinhado com a necessidade apontada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de capacitação de lideranças públicas, o LideraGOV é fruto da colaboração entre o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Desde a criação, o programa selecionou 241 dentre 2.690 candidatos e formou 188 servidores.
A turma atual, com 51 alunos, começou em novembro de 2023 e é dedicada exclusivamente a pessoas negras, com o apoio do Ministério da Igualdade Racial (MIR). O objetivo é desenvolver lideranças negras para cargos estratégicos, assegurando a aplicação do Decreto 11.443/2023, que estabelece uma cota mínima para negros em cargos de comissão e funções de confiança na administração pública federal.
O programa “LideraGOV – Lideranças para Transformar o Brasil” é finalista na categoria Gestão de Pessoas do Prêmio Espírito Público, que reconhece e valoriza profissionais públicos. O prêmio é realizado pela parceria Vamos.
Programa surgiu da necessidade de suprir vagas abertas com a aposentadoria
A ideia do programa surgiu em 2019, após um levantamento do Ministério da Economia revelar que 33% dos servidores em cargos de liderança estavam aptos a se aposentar nos próximos cinco anos. Integrante do programa desde que foi idealizado, Eduardo Almas, diretor de Carreiras e Desenvolvimento de Pessoas do Ministério da Gestão e Inovação, explica que a pesquisa revelou a necessidade de repor uma mão de obra qualificada. O programa também despertou o interesse de governos estaduais, resultando na criação do LideraRS e em planos para cursos semelhantes em outros estados.
“A primeira turma-piloto do curso, em 2020, era formada por servidores do Ministério da Economia e foi planejada para ser de forma presencial. Quando o programa foi lançado, a pandemia de Covid-19 fez com que o curso passasse a ser de forma remota. Com o êxito do modelo on-line, o LideraGOV pôde expandir para outros órgãos federais e também para outros estados”, acrescenta Eduardo.
Daquela primeira turma fazia parte Maristela de Carvalho, que hoje é a coordenadora do programa na Enap. A servidora ressalta o impacto significativo que o programa tem na administração pública federal. “O objetivo é a formação de líderes, pessoas preparadas e comprometidas em transformar o serviço público. O curso também passa por avaliação externa feita por consultores da academia, professores universitários, entre outros”, conta.
Egressos do curso são incluídos em uma rede de mão de obra qualificada
Maristela cita a Rede LideraGOV como o ápice do programa. A rede é formada por egressos do curso de formação de líderes que mantêm contato para dar continuidade e troca de experiências. Segundo a coordenadora, a estrutura tem o grande desafio de ser dinâmica, de manter a comunicação.
Uma das iniciativas da Rede é o LideraTalks, evento on-line em que são discutidas questões cruciais de liderança e governança relacionadas às escolhas e decisões dos líderes. Em um dos eventos, segundo Maristela, o assunto em pauta foi as enchentes no Rio Grande do Sul.
Quem também fez parte do programa foi Magali Dantas, atualmente servidora da Justiça Federal do Rio Grande do Sul (JFRS). Como coordenadora geral de capacitação de altos executivos da Enap, Magali integrava o projeto até janeiro deste ano.
“O LideraGOV é um programa de sucessão que democratiza as oportunidades. Capta pessoas e capacita para que elas voltem aptas para exercer liderança. É a formação de uma massa hiper qualificada, que já abrange 75 carreiras do serviço público. O programa tem o diferencial de inserir a noção de propósito e desenvolver engajamento”, analisa Magali.
Embora a conclusão do curso não garanta um cargo de liderança, as chances são significativamente aumentadas. Um estudo realizado em março de 2023 mostrou que 38% dos egressos atingiram posições de liderança. A competição pelas vagas tem se intensificado a cada edição. Na primeira turma, 5,35 candidatos disputaram uma das 60 vagas oferecidas. Em seguida, havia 12,02 servidores disputando uma das 80 vagas disponíveis. A terceira proporção foi de 20,14 para uma das 50 vagas.
A quarta edição, exclusiva para negros, abriu 50 vagas, com a quinta edição prevista para 2025, possivelmente com mais vagas para negros. O curso desenvolve três eixos: liderança pessoal, liderança de equipes e liderança organizacional.
Para participar do LideraGOV, o servidor precisa ser estável e não exercer cargo comissionado de alto executivo. O processo seletivo tem três etapas que lançam mão de diversas técnicas, como análise da trajetória acadêmica e profissional, avaliação das habilidades profissionais e análise do perfil dos candidatos.
O LideraGOV é composto por quatro fases. A primeira fase é o processo seletivo. Na segunda fase, os participantes passam por um curso de qualificação de alto nível, com pelo menos 120 horas-aula ao longo de nove meses e mais 20 horas de atividades complementares. A terceira fase concentra-se na efetivação e acompanhamento da trajetória dos egressos, com suporte do Ministério da Gestão, promovendo seu crescimento e desenvolvimento contínuos. Na quarta e última fase, o programa é submetido a uma avaliação externa para analisar os resultados e promover melhorias contínuas.