Há muito se fala sobre a revolução tecnológica e como ela mudou o mundo,cada pessoa, seus hábitos e consequentemente suas culturas. E diferente de todas as outras grandes revoluções da humanidade, ela mudou todas as culturas ao mesmo tempo e deixou o mundo conectado e sem fronteiras.

Mas como os governos estão encarando isso? 

A máxima que diz que o setor público é muito lento, atrasado e burocrático pode estar com seus dias contados?

Sendo um empreendedor otimista e que teve uma experiência incrível no setor público, vou apostar que sim. O cenário brasileiro começa a nos mostrar cases governamentais de interação com startups, instituições de promoção da inovação no setor público, centros de tecnologia construídos por estados e prefeituras e as cidades, cada vez mais com dados abertos e transparentes. 

Poderemos vislumbrar o sonho de um setor totalmente conectado e os conceitos de “cidades inteligentes” (smart city) realmente funcionando em breve. Uma prova disso é a lei de inovação, veja abaixo como ela simplifica a contratação de tecnologia:

“Art: 19 – A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as ICTs e suas agências de fomento promoverão e incentivarão a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores em empresas brasileiras e em entidades brasileiras de direito privado sem fins lucrativos, mediante a concessão de recursos financeiros, humanos, materiais ou de infraestrutura a serem ajustados em instrumentos específicos e destinados a apoiar atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, para atender às prioridades das políticas industrial e tecnológica nacional.”

E ela não parou por aí, aumentou a dispensa de licitação para projetos tecnológicos e trouxe uma série de outros benefícios que flexibilizam a contratação de tecnologia pelos governos. Uma boa iniciativa seriacriar cursos de uso da lei para prefeitos e procuradores que são fundamentais para sua aplicação

Case: Tecnologia e Inovação em Mesquita

Para mostrar que o uso da tecnologia pode ser realizado em qualquer cidade, gostaria de compartilhar com você o case de Mesquita, município com aproximadamente 180 mil habitantes, apenas 21 anos e localizada na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, normalmente conhecida pelo descaso e pela violência. 

O objetivo aqui é inspirar outros líderes públicos mostrando os pontos que, para mim, foram determinantes para o sucesso, mesmo com tão pouco recurso.

No início existiam aproximadamente 300 milhões em dívidas, registros históricos destruídos, servidores desmotivados, sem apoio da câmara.Cenário infelizmente conhecido em muitas cidades na transição.

O primeiro fator para o sucesso foi ter um gestor que realmente queria mudanças. A primeira inovação da cidade foi acabar com o secretário político. Todos passaram a ser técnicos e tinham abertura para apresentar todas suas ideias e experiências, além de muitos serem de fora da cidade trazendo outras vivências importantes.

O prefeito queria que a tecnologia estivesse em todos os serviços. E essa vontade fez com que mais de 38 serviços públicos pudessem ser acessados pela internet: exames, impostos, licenças, ouvidoria etc.. Até as rotas dos caminhões de lixo eram disponibilizadas no portal da transparência.

Benchmarking foi fundamental para todos os projetos prioritários. Cada execução contava com apoio de fontes externas, referências naquele tema. Assim os erros e inexperiências poderiam ser mitigados e os processos acelerados.

A metodologia de gestão ágil como governança. A secretaria de planejamento desenvolveu a metodologia do governo em três pilares principais – desenvolvimento de projetos com metodologia ágil – atendimento ao cidadão por meio de governança tecnológica – e oferta de serviço que possa ser medida e evoluída. 

Diversas ferramentas foram criadas e auxiliavam a tomada de decisão, além do desenvolvimento de Objetivos e Resultados Chave (OKR’s) mais transparentes. Até uma adaptação do modelo de negócios CANVAS foi criada. Assim, os projetos puderam ser criados e aprovados de forma rápida, focada na execução ágil e com recursos otimizados. Tendo apenas etapas necessárias para sua implementação.

Mesquita também se tornou o município mais transparente do estado. E teve leis que desburocratizaram a abertura de empresa e reduziram as taxas para empreendedores. Foram criadas leis de incentivo a Coworkings editais de aproximação com instituições de fomento ao empreendedorismo local e até o projeto do Coworking municipal está saindo do papel e irá ser um grande hub para aceleração do ambiente de negócios na cidade.

A cidade mudou as dívidas e a baixa-estima pelas ações de vanguarda e por se tornar referência para diversas áreas que atuam ou são do setor público.

As lições fundamentais que levei estão ligadas a vontade de um líder, o foco na transparência e desburocratização, uma equipe técnica qualificada e inovadora e governança orientada ao resultado.

Eduardo Nascimento – cofounder da startup Minha Coleta. Atuou na Comunicação Social e em Projetos Estratégicos/Inovação. Cocriou a governança ágil. Fez a lei de incentivo a coworking e foi premiado como melhor projeto em seu município no programa Lidera Rio.

*Este artigo reflete a opinião do autor e não as ideias ou opiniões da República.org. 

 

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