Impacto dos incêndios e luta pela preservação norteiam debate na Casa República

Publicado em: 12 de outubro de 2024

Pablo Casella, servidor do ICMBio, compartilhou sua experiência no combate às queimadas na Chapada Diamantina

Pablo Casella é servidor do ICMBio desde 2002. Foto: Douglas Shineidr.

PARATY — O fogo como destruição e transformação foi o tema central da mesa “Quando tudo arde”, realizada neste sábado (12) na Casa República, na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O evento reuniu Pablo Casella, analista ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e autor de Contra fogo (ed. Todavia), a jornalista Paulina Chamorro, apresentadora do podcast Vozes do Planeta, e o professor de jornalismo científico Bernardo Esteves. A discussão abordou os devastadores impactos das queimadas, as dificuldades do combate ao fogo e o esgotamento da resiliência da natureza.

O desafio de combater o fogo

Diante de uma plateia lotada, Casella detalhou sua experiência direta no combate aos incêndios na Chapada Diamantina (BA), onde atuou como servidor público e voluntário. Segundo ele, a ideia do livro Contra fogo é mostrar a realidade dos brigadistas, muitos deles voluntários que abandonam suas famílias para combater incêndios em condições extremas.

Casella relatou momentos difíceis no combate ao fogo, como o uso de métodos manuais e o escasso acesso à água. “Muita gente pensa em apagar o fogo com água, mas isso é irreal”, disse. “Na época seca, é preciso usar a água com muita sabedoria.”

A discussão também destacou os danos causados pela crescente força dos incêndios. “Os incêndios de alta intensidade destroem o solo e sua microbiota. O que era um processo natural e resiliente, com o tempo, está se perdendo. Não há mais resiliência diante do que estamos fazendo com o meio ambiente”, afirmou o analista ambiental.

Pablo Casella, Paulina Chamorro e Bernardo Esteves na Casa República. Foto: Douglas Shineidr.

Desconexão com a natureza e o fim da resiliência

Casella ainda refletiu sobre a desconexão humana com a natureza e a gravidade dos impactos ambientais. “Acho que vivemos uma lógica muito simplista, eurocêntrica, que não resolve a tragédia ambiental dentro do sistema que a gerou”, observou, ao sugerir que é preciso mudar a forma como enxergamos o mundo.

Para o servidor e escritor, a relação dos povos originários com o meio ambiente proporciona uma visão mais densa e complexa da realidade, que deveria ser considerada nas soluções para as crises ambientais.

O futuro ambiental: preservação ou paliativo?

“Quando tudo arte” trouxe à tona uma visão crítica e até pessimista sobre o futuro ambiental. Casella fez uma comparação entre a preservação da natureza e os cuidados paliativos, enfatizando que, enquanto celebramos a existência da natureza, sabemos que tudo é impermanente. “Conservar é lutar contra a impermanência. Mas, ao mesmo tempo, parece que estamos lidando com um paciente em cuidados paliativos.”

Bernardo Esteves (à direita) é professor da UFMG e repórter da revista piauí. Foto: Douglas Shineidr.

Próximas atrações na Casa República

Ainda neste sábado, a Casa República traz novos debates à Flip. Às 15h, o romancista Stênio Gardel e o médico Bruno Barbosa discutem como equilibrar a vida pública e a literatura na mesa “Ele é funcionário”. Um pouco depois, às 17h, Daniel Loria, da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária, e a economista Cecília Machado abordam a carga tributária no Brasil na mesa “Quem é o pato que paga o pato?”.

O encerramento do dia fica por conta da mesa “Retratos de uma certa adaptação”, às 20h. Aqui, o escritor e tradutor Milton Hatoum, o diretor Marcelo Gomes e a jornalista Melina Dalboni analisam as complexidades de adaptar obras literárias para o cinema.

A Casa República, que une literatura, audiovisual e gestão pública, é um ponto de reflexão sobre os desafios contemporâneos, com uma programação que reforça a importância do serviço público para o enfrentamento das desigualdades no Brasil. O evento, com curadoria da jornalista Daniela Pinheiro, é realizado pelas organizações República.org e Samambaia.org, pela produtora Matizar Filmes e pelo Museu Vassouras.

Últimas sessões de Retrato de Um Certo Oriente

O filme Retrato de Um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes e baseado no livro homônimo de Milton Hatoum, terá suas últimas exibições neste sábado, às 16h, e domingo (13), às 14h, no Cinema da Praça. A adaptação narra a história de uma família de imigrantes libaneses em Manaus (AM), em uma trama que entrelaça memórias e questões identitárias.

Serviço

Casa República na Flip 2024
Data: 10 a 13 de outubro.
Local: Rua Dona Geralda, 25, Paraty.
Exibições do filme Retrato de Um Certo Oriente: Cinema da Praça (R. Mal. Deodoro, 3, Centro Histórico).
Entrada gratuita.

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