Tem-se alcançado certo consenso entre os estudiosos da Administração Pública sobre um dos principais desafios para o êxito do serviço público: a motivação dos servidores públicos. Mas, para fazermos esse debate, é indispensável olhar para o contexto: nos últimos anos, servidores públicos brasileiros tiveram suas prerrogativas sucessivamente questionadas e salários ficaram sem reajuste. Além disso, há um contexto histórico de falta de recursos e de uma estrutura de governança que permita seu adequado reconhecimento e participação na tomada de decisões. Nesse cenário, a manutenção da motivação desses profissionais fica prejudicada.
Estabelecer um sistema de progressão que reconheça esforços e méritos, definir critérios para acesso a funções gerenciais e para sua manutenção, bem como manter o poder de compra dos salários no setor público são medidas importantes e necessárias. Mas, há, também, pautas não remuneratórias, que vão desde a atualização de nomenclaturas e atribuições de carreiras públicas que possam refletir sua importância e inserção no contexto da sociedade atual até a realização periódica de pesquisas de clima e a instituição de programas de qualidade de vida e de reconhecimento.
Há quem diga que não há maior motivação do que trabalhar com uma liderança empática e respeitosa. Mas não podemos colocar essa responsabilidade por motivar profissionais que prestam serviços relevantes ao desenvolvimento do país exclusivamente na carga das lideranças, que também precisam de cuidado, atenção e motivação. É preciso contar com uma estrutura normativa e organizacional que permita a adequada prestação dos serviços, atendimento digno à população, feedbacks respeitosos dentro das equipes, comunicação organizacional efetiva e capacitação constante.
Saber que há com quem contar nos momentos de dificuldade também é essencial à manutenção da motivação. Uma estrutura de bem-estar e de apoio psicológico em cada instituição pública tem um potencial enorme de promover ambientes saudáveis nas organizações. Afinal, contribuir para a manutenção da saúde física e mental dos servidores públicos é papel do Estado como promotor de políticas públicas e como empregador. Nesse sentido, é importante recordar a edição, em maio de 2010, da Portaria nº 1.261/2010, que institui os princípios, diretrizes e ações em saúde mental, visando orientar os órgãos e entidades do Sistema de Pessoal Civil – SIPEC da Administração Pública Federal sobre a saúde mental dos servidores.
Dificuldades e restrições de toda a sorte para tratar a temática da motivação existem e existirão, diante dos recursos limitados do Poder Público. Nessas horas, contar com a parceria de uma rede de apoio da sociedade civil e da iniciativa privada pode fazer a diferença. Há iniciativas como a República.org, a Parceria Vamos, o Movimento Pessoas à Frente, o Movimento Gestão Pública Eficiente – MGPE, os sindicatos e associações de categorias profissionais – correndo aqui o risco de ser injusto ao não mencionar um grande rol de outras frentes e entidades – que, por meio de premiações, capacitações e formas diversas de reconhecimento, oferecem importante contribuição para a motivação dos servidores públicos brasileiros.
A motivação envolve também relacionamento com a comunidade e inserção em questões sociais. Programas de responsabilidade socioambiental, que incluam ações de voluntariado e a promoção de economia circular, trabalhando a logística sustentável, demonstram preocupação com o meio em que a instituição pública se insere e ajudam a aumentar a sensação de pertencimento e a reforçar o papel dos servidores públicos como agentes de transformação social. O serviço público é ESG em sua origem e sua essência.
Motivar servidores públicos é, portanto, uma responsabilidade de todos os atores desse processo, que, ao buscarem concretizar ferramentas para essa motivação, as quais podem ou não envolver dispêndios financeiros, prestam merecido reconhecimento àqueles profissionais que dedicam suas carreiras a buscar a prestação de serviços públicos de qualidade para a nossa população.
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