Por que times com diversidade e inclusão performam melhor e como fazer isso

Publicado em: 25 de fevereiro de 2025

Durante décadas, a falácia da democracia racial dominou o discurso sobre desigualdade no Brasil1. Supunha-se que o país era desigual, mas não racista, atribuindo as diferenças sociais exclusivamente às questões de classe. Hoje, sabemos que essa visão é limitada. A interseccionalidade entre gênero, raça e classe é amplamente reconhecida como essencial para entender as desigualdades sociais2.

Diante disso, surge um desafio central para governos, empresas e cidadãos: como promover um ambiente de trabalho inclusivo e harmônico em uma sociedade tão diversa?

Nos últimos anos, práticas de diversidade e inclusão (D&I) têm ganhado força como ferramentas para criar ambientes mais acolhedores e produtivos. Mas o que realmente significam essas práticas, como podem ser aplicadas no dia a dia e quais os seus benefícios?

O que são práticas de diversidade e inclusão (D&I)?

Práticas de D&I são ações que reconhecem e respeitam diferenças nas identidades das pessoas — como gênero, raça/etnia, orientação sexual e outros fatores — com o objetivo de promover a heterogeneidade nas equipes, incluindo cargos de liderança.

Por exemplo, você já se perguntou sobre a diversidade no seu ambiente de trabalho?

  • Qual é a composição racial ou de gênero da sua equipe?
  • Há mulheres ou pessoas LGBTQIA+ em cargos de liderança?
  • Chefias mulheres têm espaço para participar de decisões estratégicas?

Esses questionamentos ajudam a avaliar como a diversidade e inclusão estão sendo aplicadas na prática.

Por que diversidade e inclusão importam?

Promover diversidade vai além de ser moralmente correto; é uma estratégia inteligente para organizações e governos. Dados mostram que3:

  • Empresas com mais mulheres em cargos de liderança têm 25% mais chances de superar financeiramente seus pares menos diversos.
  • Na América Latina, empresas que investem em práticas de D&I relatam colaboradores mais felizes e engajados.

No setor público, a diversidade melhora a representatividade e, consequentemente, a qualidade das políticas públicas. Quando servidores refletem a demografia da sociedade, a confiança e a inovação aumentam, contribuindo para decisões mais democráticas e efetivas.

O papel do setor público na promoção de diversidade

Embora o setor privado tenha avançado rapidamente em D&I, o setor público também colhe benefícios dessas práticas. A inclusão de mulheres e outros grupos marginalizados em posições de liderança4:

  • Combate estereótipos de gênero e raça5.
  • Incentiva maior participação de mulheres jovens na política6.
  • Aumenta a identificação das necessidades de grupos minoritários, promovendo políticas mais justas e eficazes7.

Por exemplo, a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP)8 oferece cursos gratuitos sobre diversidade e serviços públicos inclusivos. Já a Fundação João Pinheiro, com o Programa de Lideranças Negras na Gestão (PLN), capacita gestores negros para exercerem lideranças estratégicas no setor público.

Iniciativas que inspiram transformação

Além dos exemplos nacionais, iniciativas como o Columbia Women’s Leadership Network (CWLN) destacam o potencial da colaboração entre setores público, privado e o terceiro setor. Com foco em mulheres líderes, o programa promove redes diversificadas para influenciar decisões políticas e institucionais9.

Essas ações formam líderes que podem transformar realidades, enfrentando barreiras sistêmicas de gênero e raça. Estudos mostram que mulheres negras, ao criarem redes de apoio, conseguem superar desafios no acesso e permanência em cargos de liderança.

Benefícios do networking e da formação para diversidade e inclusão

Cursos e programas como o PLN e o CWLN não só ampliam conhecimentos sobre estratégias de D&I, mas também10:

  • Validam experiências pessoais diante de barreiras sistêmicas.
  • Promovem a construção de redes de apoio e alianças estratégicas.
  • Contribuem para a superação de desafios estruturais, como a exclusão de mulheres em espaços de networking realizados fora do horário comercial.

Essas conexões são fundamentais para fomentar parcerias e oportunidades que impulsionam transformações sociais e trazem a perspectiva de gênero e raça para as agendas institucionais11.

Diversidade e inclusão: um caminho para futuro

Promover diversidade e inclusão não se trata apenas de preencher cotas, mas de valorizar as identidades que compõem o Brasil. Seja no setor público ou privado, incluir grupos marginalizados12:

  • Melhora os resultados organizacionais.
  • Estimula a inovação.
  • Constrói uma sociedade mais justa e representativa.

Ao fortalecer redes e compartilhar experiências, organizações criam bases para um futuro equitativo, no qual todas as vozes são ouvidas e representadas de maneira justa.

Referências bibliográficas

1 Gonzalez, L., & Hasenbalg, C. (1982). Relações entre negros e brancos no Brasil. In Lugar de Negro (pp. 84–88). Marco Zero.
2 Bersani, H. (2018). Aportes teóricos e reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil. Extraprensa, 11(2), 175-196. https://doi.org/10.11606/extraprensa2018.148025
3 McKinsey & CO. Diversity still matters. Disponível em: <https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/diversity-still-matters>
4 Pestana, M. B3 cria índice inédito visando inclusão e diversidade no mundo corporativo. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/financas/b3-cria-indice-inedito-visando-inclusao-e-diversidade-no-mundo-corporativo/
5 Celis, K. & Childs, S. (2020). Designing for Feminist Democratic Representation. Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/oso/9780190087722.003.0005
6 Childs, S & Lovenduski, J. (2013) Political Representation. In Waylen, G., Celis, K., Kantola, J. & Weldon, L. (Eds.). The Oxford handbook of gender and politics (pp. 489-513). New York: Oxford University Press. DOI: 10.1093/oxfordhb/9780199751457.001.0001
7 OCDE. Public Employment and Management 2023: Towards a More Flexible Public Service, OECD Publishing, Paris, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1787/5b378e11-en
8 https://www.enap.gov.br/pt/busca?searchword=trilha+de+diversidade&tipo=cursos
9 COLUMBIA GLOBAL CENTER RIO DE JANEIRO. Columbia Women’s Leadership Network. 2024.
10 ALVES, Iara Cristina da Silva. Burocracia Representativa de Gênero no Governo Federal do Brasil. 2023.195f. Tese (Doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos) – Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2023.
11 BERTRAND, Marianne. (2018). Coase Lecture – The Glass Ceiling. Economica (2018) 85, 205–231 
12 BESERRA, Julye. The Boss is a Black Woman: an Intersectional Case Study of the Executive Branch in Minas Gerais, Brazil. Vienna: Central European University, 2021. Print.

Julye Beserra: Mestre em estudos de gênero pela Central European University - CEU (2021), especialista em diversidade e inclusão nas organizações pela Universidade São Judas Tadeu (2023) e em políticas pública e justiça de gênero pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais - CLACSO (2018) e graduada em administração pública pela Fundação João Pinheiro - FJP (2014). Atualmente é assessora de gestão de projetos na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social de Minas Gerais. Faz parte do Grupo de Estudos Estado, Gênero e Diversidade da Fundação João Pinheiro (Egedi/FJP), desenvolvendo ações na área de participação política, interseccionalidades e política pública. Integrante do Programa de Lideranças Negras da Fundação João Pinheiro - FJP (2023/2024) e do Women’s Leadership Network in Brazil Program da University of Columbia (2024).

A nota é de responsabilidade dos autores e não traduz necessariamente a opinião da República.org nem das instituições às quais eles estão vinculados.

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