Em nossas contribuições para a República em Notas, reforçamos que saúde mental não diz respeito apenas a uma dimensão individual, composta exclusivamente por fatores biológicos e psíquicos, mas também resultado da complexa interação entre aspectos individuais e as condições de vida das pessoas.

É importante partir dessa premissa para avançarmos no entendimento de que a saúde mental atravessa outras agendas sociais: o direito à alimentação saudável e adequada, à moradia, ao saneamento básico, ao trabalho, à educação, ao transporte, ao lazer e ao acesso aos bens e serviços essenciais são fatores determinantes para a efetivação do direito de acesso aos cuidados em saúde mental

Mesmo afetando pessoas de todas as idades, o risco de vivenciar algum tipo de adoecimento mental ao longo da vida é aumentado, por exemplo, pela pobreza, desemprego, abusos e negligências, doenças físicas, negação de direitos e eventos da vida, como a morte de um ente querido, ou rompimento de relacionamentos. Esses eventos são chamados de fatores de risco à saúde mental, caracterizados por eventos e características negativas que atuam como potencializadores de condições de saúde ao longo da vida, podendo provocar prevalências e até o agravamento de adoecimento.

Por outro lado, o risco pode ser diminuído por condições como, por exemplo, o acesso à moradia digna e à alimentação adequada, oportunidades de aprendizagem e trabalho, sensação de segurança e proteção da integridade nos espaços frequentados, autoestima e autonomia, bons relacionamentos sociais e afetos positivos em todas as esferas, o que chamamos de fatores de proteção em saúde mental. São características individuais e contextuais que fortalecem e podem aumentar a resistência a fatores de risco.

Ambos podem ser individuais, relacionados à família, fatores sociais, econômicos e de ambiente e, em geral, é o efeito cumulativo destes fatores é o que faz a diferença para saúde mental. Ou seja, uma pessoa que acumula vários fatores de risco está mais vulnerável aos adoecimentos mentais, enquanto uma pessoa que acumula mais fatores protetivos tem menos chances de vivenciar algum tipo de sofrimento psíquico – e, caso passe por isso, pode ser em um quadro menos agravado, por exemplo.

De forma geral, podemos pensar nos fatores de risco e de proteção em quatro grandes categorias para autoavaliar os atravessamentos em nossa saúde mental: 1) saúde/corpo; 2) segurança/proteção; 3) acesso a recursos; e 4) relacionamento. 

Algumas perguntas orientadoras podem ajudar nesse processo:

  • Saúde/corpo: meu corpo e saúde me permitem fazer o que desejo?
  • Segurança/proteção: os fatores ambientais e interpessoais afetam minha habilidade de prestar a atenção e fazer o que preciso?
  • Recursos: disponho dos recursos e bens para minhas necessidades básicas?
  • Relacionamentos: tenho redes de suporte e de apoio para quando preciso de ajuda?

Fatores de risco e de proteção em saúde mental na adolescência

Quando olhamos para a adolescência, a fase marcada por transformações psicossociais em que acontece a construção da identidade e existem inúmeras mudanças psicossociais, constatamos que diminuir os fatores de risco e fortalecer os fatores de proteção são ações de prevenção de doenças e promoção da saúde mental.

Segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conduzida pelo professor Dr. Christian Kieling, os principais fatores de risco na adolescência estão relacionados a relacionamentos (bullying, afetos negativos), violência com parceiro íntimo; peso e atividade física, abuso de substâncias psicoativas e situação de educação e emprego precarizadas.No relatório Caminhos em Saúde Mental, é apresentado um quadro comparativo de orientações para investigar como estão os fatores de risco e proteção à saúde mental entre adolescentes. O conceito de resiliência foi aplicado como a capacidade de superar adversidades significativas e de se adaptar positivamente à mudança, considerando fatores de risco e proteção.

Essas orientações evidenciam a necessidade de falar sobre ações de prevenção em saúde mental: elas podem aumentar os fatores de proteção e diminuir os de risco, especialmente na adolescência, um período que provoca impactos ao longo de toda a vida.

Mas, se sabemos que a saúde é influenciada e influencia várias outras áreas e esferas da vida, é necessário que essas ações sejam articuladas de forma intersetorial, o que significa envolver um amplo conjunto de instituições, como o sistema de saúde, o sistema de educação, assistência social, o sistema de justiça, governos municipais, estaduais e federal, organizações da sociedade civil e setor privado.

Instituto Cactus

O Instituto Cactus é uma organização filantrópica e de direitos humanos, sem fins lucrativos, independente, que atua para ampliar e qualificar o debate com os cuidados em prevenção de doenças e promoção de saúde mental no Brasil.
Fomentamos projetos, ações e iniciativas diversas que atuem de forma estratégica para a construção e oferta de soluções e ferramentas voltadas principalmente aos adolescentes e às mulheres. Gerando evidências e inovações para o campo da atenção psicossocial em todo país.

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