Possibilidade de entrevistas e provas online são os pontos mais polêmicos da proposta
Por Stella Tó Freitas
Conhecido como Lei Geral dos Concursos, o Projeto de Lei nº 2.258, de 2022, propõe mudanças na maneira como a seleção de servidores públicos é feita no Brasil. Além das provas, o novo modelo propõe a avaliação de aspectos comportamentais em entrevistas, testes de aptidões cognitivas e simulação de tarefas.
A proposta prevê que municípios, estados, o Distrito Federal e a União utilizem métodos de seleção mais específicos para identificar se o futuro funcionário público tem os conhecimentos, aptidões e vocação necessários para assumir um cargo na administração pública.
O Projeto de Lei está há 11 anos em tramitação e, atualmente, é analisado pelo Senado Federal.
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Como são os concursos públicos hoje?
Hoje, no Brasil, não existe uma lei geral que estabeleça regras mínimas básicas para os concursos públicos em todas as esferas federativas, e algumas carreiras contam com normas próprias, como é o caso do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
De modo geral, os concursos avaliam candidatos por meio de provas — objetivas, dissertativas e orais (em alguns casos) — e avaliações de habilidades, como o teste físico, necessário para as carreiras de segurança. Também existem testes de aptidão psicológica para algumas carreiras, como as polícias.
O que muda com a nova proposta para os concursos públicos?
O PL nº 2.258/22 propõe normas gerais válidas em todo o Brasil, abrangendo autorização, planejamento, execução e avaliação dos certames.
Caso a lei seja aprovada, os futuros servidores públicos poderão passar por avaliações de competências, que podem ser medidas por meio de elaboração de documentos, simulação de tarefas e testes compatíveis com os cargos, além de testes psicológicos mais específicos e até entrevistas, dependendo do edital.
As mudanças propostas nos métodos de avaliação passam por três critérios relacionados às atividades a serem desempenhadas pelos servidores:
Conhecimentos — domínio dos conteúdos e matérias;
Competências — analisadas por meio de aspectos comportamentais;
Habilidades — que decorrem pela aptidão intelectual ou física.
A proposta também traz regras específicas sobre a avaliação de provas e títulos, além de programas de formação. As mudanças não incluem os ingressos no Ministério Público e na magistratura, entre outros.
O texto tem como objetivo garantir que os concursos públicos tenham maior segurança jurídica, além de uma padronização dos métodos de aferição. Entretanto, o Projeto de Lei não obriga que os concursos implementem todos os critérios. Cada município, estado, o Distrito Federal e a União têm autonomia para decidir sobre a regulamentação dos novos critérios. Por exemplo, um edital pode optar por não ter entrevistas como critério, mas, se houver, a entrevista precisa estar nos moldes estabelecidos pela lei.
Duas polêmicas geradas pelo PL dos Concursos
Desde que voltou ao debate, o PL dos Concursos tem levantado algumas controvérsias. Uma delas está relacionada à realização de entrevistas. Há quem aponte que esse critério pode abrir margem para racismo, homofobia, machismo, xenofobia ou intolerância religiosa, embora a proposta expresse que é vedada a discriminação ilegítima de candidatos com base na idade, sexo, naturalidade, estado civil, deficiência, etnia, condição física, proveniência ou local de origem.
Por outro lado, existe a defesa de que a avaliação feita por meio de entrevistas possibilita a seleção de pessoas mais qualificadas, vocacionadas e comprometidas a exercer uma função no serviço público.
Outro ponto de divergência é a segurança das provas on-line. Isso porque a proposta autoriza a realização de provas à distância, de forma on-line ou por plataforma eletrônica, estabelecendo que as regras sejam definidas pelo órgão contratante ou pela administração pública.
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Alguns grupos têm levantado a discussão sobre a garantia da integridade das informações e se os certames teriam a capacidade de executar métodos antifraude e anticorrupção.
Do outro lado, há quem aponte que a inserção de tecnologias é uma realidade mundial e uma importante aliada para a promoção do acesso democrático às provas, e que o Brasil já tem experiências inovadoras de alto nível, como o voto eletrônico e o Enem Digital.
Como são os concursos no mundo?
Em alguns países da América Latina e da Europa, os concursos públicos já usam métodos que vão além de provas objetivas. No Chile, há provas de caráter mais técnico, menos teórico, além de entrevistas e outras dinâmicas adequadas ao cargo. Já em Portugal são feitos testes psicológicos, enquanto na Inglaterra a avaliação também é feita por meio de entrevistas.
Por que as mudanças, afinal?
O argumento principal para sustentar a Lei dos Concursos é que, para aprimorar o funcionamento da administração pública e promover serviços públicos melhores, é preciso que a seleção de profissionais do setor atraia aqueles que são mais vocacionados e com competências mais compatíveis com os cargos.