Por Stella Tó Freitas
O aclamado autor de Torto Arado, Itamar Vieira Jr., abriu os debates deste sábado (26) na Casa República.org na Feira Internacional de Paraty (Flip). Servidor público do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ele dividiu a mesa com o jornalista Paulo Werneck. Foram debatidos temas como reforma agrária, políticas de cotas e serviço público.
Apontado por Werneck como a estrela da literatura brasileira, Vieira Jr. ressaltou que as políticas de ações afirmativas possibilitaram a entrada dele tanto no serviço público brasileiro, por meio de concurso, quanto na escrita, por meio da educação.
“Eu vejo que o serviço público me permite viver e experimentar coisas interessantes e engajadas e me dar um sentido de atuar para favorecer a sociedade brasileira. No serviço público, eu descobri que há uma missão muito importante para mitigar desigualdades e diferenças no país”, afirmou o escritor.
Nascido em Salvador, Vieira Jr. é geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É também analista em reforma e desenvolvimento agrário do Incra e já atuou em frentes como agricultura familiar, projetos de assentamento e no serviço de regularização de territórios quilombolas, em que se inspirou para dar vida ao romance que lhe rendeu diversos prêmios.
“Se eu não tivesse tido essa experiência de trabalho com as pessoas que estão lidando com a terra, muito provavelmente esse livro não teria existido”, ressaltou.
Torto Arado já ultrapassou a marca de 400 mil cópias vendidas no mundo todo e já foi traduzido para 22 idiomas. Em 2020, a obra foi vencedora do Prêmio Jabuti de melhor Romance Literário e do Prêmio Oceanos de Literatura.
Vieira Jr. foi o primeiro estudante a receber a bolsa Milton Santos, financiada com parte da herança do professor, de mesmo nome, considerado o maior geógrafo do Brasil e um dos maiores intelectuais do mundo. Vieira Junior citou o intelectual ao tratar da distribuição de terras no Brasil. “A reforma agrária é uma política pública permanente.”
Ao fim do debate, o autor fez um apontamento sobre a eficácia da política de cotas nas universidades, que abriu portas para pessoas pretas e pardas e para a construção de novas narrativas científicas, intelectuais e culturais no Brasil. “A política de cotas é uma revolução que mudou o perfil de quem fala neste país”, finalizou.
O evento da República.org termina amanhã (27) com um encontro entre Annie Ernaux (França) e Geovani Martins promovido pelo instituto em parceria com a Folha de S.Paulo.
CASA REPÚBLICA.ORG NA FLIP
Domingo, 27/11
10h — República.org e Folha de S.Paulo apresentam: “Um acontecimento”, conversa entre a vencedora do prêmio Nobel Annie Ernaux e o escritor Geovani Martins, com mediação de Rita Palmeira.
Local: Casa Folha (r. do Comércio, 8).