“Poluição do Ar em Salvador” é um dos finalistas na categoria Saúde do 6º Prêmio Espírito Público
Por Célia Costa — Especial para República.org
A qualidade do ar e suas implicações na saúde da população são objetos de estudo do projeto “Poluição do Ar em Salvador”. Os pesquisadores começaram a analisar a qualidade do ar na cidade em 2005. Ao longo dos anos, servidores públicos encarregados da pesquisa constataram os perigos à saúde da população devido à presença de metais pesados na atmosfera. Isso resultou em iniciativas como mudanças nos transportes públicos, que contribuem para a poluição do ar.
À frente do projeto está a servidora Nelzair Araújo Vianna, lotada no setor de Vigilância em Saúde, na Secretaria de Saúde. De acordo com ela, em 2005, não havia nenhuma informação sobre a poluição do ar em Salvador. No entanto, ela questionava a conexão entre essa poluição e o aumento de enfermidades relacionadas à presença de metais no ar, como doenças gastrointestinais, pulmonares e hematológicas.
A partir dessa percepção, implementou-se o programa VIGIAR, do Ministério da Saúde, para definir áreas críticas para a saúde e identificar os efeitos agudos e persistentes da exposição à poluição atmosférica.
Resultados e impactos do projeto
“Poluição do Ar em Salvador: Uma Abordagem em Análise de Riscos para Tomada de Decisão” é um dos finalistas na categoria Saúde do 6º Prêmio Espírito Público (PEP), que reconhece e valoriza profissionais públicos. A premiação é uma realização da parceria Vamos.
Os primeiros resultados do projeto foram um marco nas ações de qualidade do ar em Salvador e serviram como base para a implementação de ações para mitigar as fontes emissoras de poluição. Políticas públicas como intervenções no transporte público, construção de ciclovias e a instalação de uma agenda permanente, com Salvador se tornando signatária da Declaração Cidade Ar Limpo do C40, foram algumas das medidas adotadas.
Além disso, a cidade instituiu um Decreto Municipal para a criação de um grupo de trabalho focado na qualidade do ar. “Um projeto iniciado há 19 anos, que tem sido reinventado a cada gestão com propostas inovadoras que deram sequência a essa agenda”, avalia Nelzair, pesquisadora da Fiocruz e Fiscal da Vigilância em Saúde de Salvador.
Segundo a pesquisadora, os resultados das análises levaram a uma série de mudanças. O transporte público causava 70% da poluição do ar. Em seguida, houve uma mudança na frota, com 25% dos ônibus sendo substituídos por modelos não poluentes. “A cidade saiu de zero para 300 quilômetros de ciclovias, com um projeto de expansão. Além disso, o projeto de arborização foi posto em prática”, lista Nelzair. Ao adotar essas medidas, Salvador conseguiu se tornar signatária do C40, grupo que reúne prefeitos das principais cidades do mundo unidas em ação para enfrentar a crise climática.
Métodos de pesquisa e tecnologias utilizadas
Entre os métodos utilizados, pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Bahia (UFBA) usaram a bromélia conhecida como barba-de-velho (Tillandsia usneoides), espécie presente nas matas brasileiras, para estudar as concentrações de metais pesados no ar de Salvador e do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram a presença elevada de metais pesados no ar das duas cidades. Em Salvador, foram encontradas partículas de cádmio, cromo, chumbo, cobre e zinco.
Outro método utilizado na pesquisa foi a instalação de sensores. A Ilha de Maré e a Região Metropolitana de Salvador receberam, em 2022, equipamentos para medir material particulado PM 2.5 (partícula inalável ultrafina com um diâmetro de 2.5 micrômetros, que pode penetrar profundamente nos pulmões, causando doenças respiratórias), dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre, ozônio, umidade e temperatura.
O projeto é também um marco na administração pública. Nelzair destaca o engajamento de diversos setores (Saúde, Meio Ambiente, Educação, Transporte e Turismo) para conhecer os resultados e promover as mudanças necessárias.
Contudo, segundo a servidora, o desenvolvimento do projeto não foi linear ao longo dos seus 19 anos de existência e em diferentes gestões. A pesquisa, que se tornou um propósito de vida para Nelzair, recebeu vários “nãos”. A primeira dificuldade foi provar que a poluição causava diversas doenças e, portanto, era uma questão de saúde pública. Muitos gestores achavam que era uma responsabilidade da pasta de Meio Ambiente.
“Conciliar tudo isso era desafiador”, diz Nelzair.