Mais de 90% dos planos de governo de candidatos a prefeito em 11 capitais são omissos em relação aos servidores públicos

Publicado em: 8 de outubro de 2024

Levantamento inédito feito pela República.org revela que maioria dos prefeitáveis seria reprovada quando o assunto é gestão de pessoal no serviço público

Por Eugênia Lopes — Especial para República.org

Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil.

Mais de 90% dos candidatos a prefeito em 11 capitais apresentaram em seus planos de governo propostas acanhadas em relação à gestão de pessoal no serviço público. Esta é a conclusão do levantamento inédito elaborado pela República.org, que nas eleições de 2024 avaliou 33 planos de governo de prefeitáveis em 11 capitais das cinco regiões com maior colégio eleitoral do país. Numa escala que vai de 0 a 10, seis dos 33 planos foram reprovados com nota zero; ou seja, não apresentaram nenhuma proposta para os servidores. Apenas 3 tiveram nota acima de 5 e ninguém ganhou dez.

“Nosso entendimento é que esse tema deveria ter uma prioridade maior na agenda dos candidatos; deveria entrar inclusive nos debates. Mas não vimos isso nos planos analisados”, lamenta Renata Vilhena, professora associada da Fundação Dom Cabral e presidente do Conselho da República.org. “O que mais chama atenção é que esse tema, mesmo influenciando na qualidade dos serviços públicos entregues à população, ainda é pouco explorado e priorizado pelos candidatos”, observa Bárbara Cardozo, coordenadora de Projetos da República.org.

Para avaliar os planos de governo em relação à gestão de pessoal no serviço público, a pesquisa da República.org levou em conta o grau de maturidade de dez temas: atração e seleção; desenvolvimento; gestão de lideranças; gestão de desempenho; contratação temporária; engajamento; reforma de carreiras; people analytics; clima organizacional e valorização; e promoção de equidade.

O grau de maturidade foi avaliado com base em uma escala que varia entre 0 a 4, em que 0 significa que o tema não é abordado e 4 significa que são propostas ações, projetos ou programas abrangentes acerca do tema analisado. “Na média, o tema que trata do desenvolvimento dos servidores públicos foi abordado mais vezes e com mais qualidade que os demais. Os planos apresentam propostas de desenvolvimento, mas não propõem como vão avaliar a efetividade dessas ações, uma etapa fundamental quando pensamos em políticas de gestão de pessoas”, afirma Elis Cerutti, analista de Projetos da República.org, responsável pelo levantamento.

Reprovados

Os seis candidatos às eleições municipais de 2024 reprovados com zero não abordaram nenhum dos temas em seus planos. São eles: André Fernandes (PL/Fortaleza), Edmilson Rodrigues (PSOL/Belém), Fuad Noman (PSD /Belo Horizonte), Geraldo Júnior (MDB/Salvador), Luciano Ducci (PSB/Curitiba) e Mauro Tramonte (Republicanos/Belo Horizonte).

Dos 33 planos, oito apresentaram propostas insuficientes, ganhando notas entre 0 e 2. É o caso, por exemplo, dos prefeitos e candidatos à reeleição João Campos (PSB), de Recife, e Eduardo Paes (PSD), do Rio de Janeiro. Líderes nas pesquisas de intenção de voto, os dois ficaram na lanterninha no levantamento: Campos ganhou nota 0,8 e Paes ficou com 0,5.

Os outros candidatos que ganharam nota abaixo de 2 são Roberto Cidade (União Brasil/Manaus), Vanderlan Cardoso (PSD/Goiânia), David Almeida (Avante/Manaus), Bruno Engler (PL/Belo Horizonte), Igor Normando (MDB/Belém) e Evandro Leitão (PT/Fortaleza). “Quando é reeleição, acho que o empenho no plano é menor ainda. É quase como uma obrigação que precisa ser apresentada”, acredita Renata Vilhena.

Enquanto os planos dos candidatos à reeleição ficaram com média 1,7, os demais apresentaram propostas um pouco mais robustas, conquistando média de 2,5. Na análise por faixa etária, as notas mais altas foram obtidas pelos candidatos com idade entre 41 e 50 anos, que ganharam 3,5. O levantamento incluiu ao menos uma capital de cada uma das cinco regiões brasileiras.

Em São Paulo, os planos de governo dos três primeiros lugares nas pesquisas de intenção de voto tiveram notas semelhantes. Enquanto o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) ganharam nota 2,5, Guilherme Boulos (PSOL) tirou 2,8 nas propostas apresentadas sobre gestão de pessoal. Já no Rio de Janeiro as notas no quesito servidores públicos foram mais díspares: Tarcísio Motta (PSOL) obteve 6, a maior nota de todo o levantamento, Alexandre Ramagem (PL) ganhou 2,3 e o prefeito Eduardo Paes (PSD) ficou com 0,5.

Metodologia

O levantamento da República.org foi feito com base nos planos de governo apresentados pelos candidatos à Justiça Eleitoral. Foram considerados os planos dos prefeitáveis que apareceram nos três primeiros lugares nas pesquisas de intenção de voto dos institutos Paraná Pesquisas e Quaest, entre os dias 17 e 23 de setembro, em 11 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Manaus, Recife, Porto Alegre, Belém e Goiânia. Juntas, as 11 cidades têm cerca de 26 milhões de eleitores.

Para avaliar os planos de governo dos prefeitáveis, a República.org criou um indicador, uma espécie de “nota”, que varia de 0 a 10. A média geral ficou em 2,2. Apenas os planos de governo de três candidatos tiraram nota acima de 5. Em primeiro lugar, ficou Tarcísio Motta (PSOL), com 6, seguido por Kleber Rosa (PSOL), candidato em Salvador, que tirou nota 5,8. Ney Leprevost (União Brasil), que disputa a prefeitura de Curitiba, obteve 5,3.

Os candidatos que ficaram abaixo da média de 2,2 apresentaram planos sem qualquer proposta ou propostas insuficientes na área de gestão de pessoas no serviço público. O levantamento detectou que temas de contratação temporária, gestão do desempenho, clima organizacional, atração e seleção, e reforma de carreiras foram mencionados de maneira superficial nos planos de governo da maioria dos candidatos.

Já temas como engajamento e promoção de equidade praticamente não foram abordados em nenhum dos planos. “Sinto muita falta de agendas ligadas à promoção da igualdade e agendas mais estruturantes em termos de gestão pública. São temas que deveriam estar no centro do debate. Essa falta de preocupação com essa agenda é preocupante”, atesta Renata Vilhena.

O levantamento feito pela República.org não avaliou a qualidade geral dos planos de governo dos candidatos às eleições municipais; o estudo foi centrado apenas nas propostas apresentadas em relação à gestão de pessoal no serviço público.

Classificação dos candidatos pelo indicador GPSP (Gestão de Pessoas no Setor Público): análise dos planos de governo em 11 capitais

CapitalCandidato(a)Indicador GPSP do plano de governo
Rio de JaneiroTarcísio Motta6,0
SalvadorKleber Rosa5,8
CuritibaNey Leprevost5,3
GoiâniaAdriana Accorsi3,8
GoiâniaSandro Mabel3,3
Porto AlegreJuliana Brizola3,3
BelémDelegado Éder Mauro3,0
ManausAmom Mandel3,0
Porto AlegreMaria do Rosário3,0
SalvadorBruno Reis3,0
Porto AlegreSebastião de Araújo Melo2,8
RecifeDaniel Coelho2,8
São PauloGuilherme Boulos2,8
CuritibaEduardo Pimentel2,5
RecifeGilson Machado2,5
São PauloPablo Marçal2,5
São PauloRicardo Nunes2,5
FortalezaCapitão Wagner2,3
Rio de JaneiroAlexandre Ramagem2,3
BelémIgor Normando2,0
Belo HorizonteBruno Engler2,0
FortalezaEvandro Leitão1,8
ManausDavid Almeida1,8
GoiâniaVanderlan Cardoso1,5
ManausRoberto Cidade1,0
RecifeJoão Campos0,8
Rio de JaneiroEduardo Paes0,5
BelémEdmilson Rodrigues0,0
Belo HorizonteFuad Noman0,0
Belo HorizonteMauro Tramonte0,0
CuritibaLuciano Ducci0,0
FortalezaAndré Fernandes0,0
SalvadorGeraldo Júnior0,0
Fonte: “Levantamento Planos de Governo — Eleições Municipais 2024”, da República.org.

Compartilhe:

Veja outras notícias

categorias blog

Assine nossa newsletter e saiba tudo sobre serviço público e gestão de pessoas