Ministra defende Reforma Administrativa com foco em melhoria dos serviços e critica desigualdades como os supersalários
Por Larissa Guimarães — Especial para a República.org
A ministra Esther Dweck foi a responsável por abrir o primeiro dia da Casa República na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Em sua participação, abordou um dos temas centrais em discussão no Brasil: a Reforma Administrativa — ou, como prefere definir, a transformação do Estado. Dweck detalhou a articulação conduzida pelo governo junto ao Grupo de Trabalho da Câmara dos Deputados e destacou a contribuição do Ministério da Gestão e da Inovação (MGI), que apresentou propostas para o debate legislativo.
“Um dos ganhos do GT da Reforma Administrativa foi a mudança da lógica de redução do Estado. O debate saiu da lógica punitivista, saiu da lógica de olhar o Estado como um problema, e passou a olhar o contrário: melhorar o Estado é algo necessário para transformar a vida das pessoas”, afirmou na última quinta-feira (31/7), durante a mesa O Estado das Coisas, que contou também com a jornalista Clara Becker (Redes Cordiais) e o diretor da República.org Rodrigo Candido.
Ainda no campo dos grandes temas em discussão no país, a ministra chamou a atenção para o que classificou como “uma desigualdade muito grande dentro do próprio serviço público”, ao se referir aos chamados supersalários — remunerações que ultrapassam o teto constitucional, atualmente equivalente ao salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal. “Tem temas como supersalários, de fato, não são simples para resolver em um mês. É uma questão que demanda muita discussão”, disse.

Segundo a ministra, outro ponto que deverá ser bastante debatido no segundo semestre de 2025 é a contratação de servidores temporários, que teve crescimento nos últimos anos. Para ela, é preciso haver uma entrada mais frequente de profissionais por meio de concursos públicos.
Reforma Administrativa e transformação do Estado estão no centro do debate
Na Casa República, a ministra também defendeu que é preciso reestruturar o Estado para garantir respostas mais rápidas à população. Ela explicou que o governo organizou sua atuação em três áreas principais: Reforma Administrativa, transformação digital e gestão de pessoas.
Dweck ressaltou, além disso, a importância do serviço público no país, lembrando que a maioria dos servidores são pessoas que estão à frente de entregas essenciais para a população brasileira, como saúde e educação. “Sempre quis ser servidora pública. Sempre quis ser professora, me tornei professora. Estou ministra, mas sou professora”, relatou.

Supersalários no serviço público exigem debate estruturado, diz ministra
Na mesa, Dweck criticou a desigualdade interna no setor público e mencionou os supersalários como um dos principais desafios. Para ela, embora o tema seja complexo, precisa continuar em pauta: “é uma questão que demanda muita discussão”.
Gestão de desempenho no serviço público passa por reformulação
Já sobre o programa de gestão de desempenho, a ministra explicou que a iniciativa passou por uma reformulação significativa. Antes, o foco recaía excessivamente sobre tarefas como horas de reunião, produção de relatórios e elaboração de notas técnicas. Com as mudanças implementadas, a lógica do sistema foi transformada: o plano de trabalho passou a ser associado às entregas efetivas, sem adotar uma perspectiva punitivista.
Tem temas como supersalários, de fato, não são simples para resolver em um mês. É uma questão que demanda muita discussão.
Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação
Dweck reconheceu que o processo de capacitação de gestores e equipes é desafiador, mas essencial para consolidar a nova abordagem. De acordo com ela, a avaliação de desempenho não está atrelada à remuneração, funcionando como instrumento de valorização e progressão dos servidores.
“A gente quer que todo mundo tenha sua progressão atrelada à avaliação de desempenho”, apontou. “Se a pessoa for bem, ela tem que poder progredir. Tem que ser um estímulo para ela, e não gerar competição. Tem que haver cooperação entre os servidores. Quanto menos punitivista for o modelo, mais fácil é implementar uma boa gestão de desempenho.”

Concurso Nacional Unificado busca mais diversidade no funcionalismo
Ao comentar sobre o Concurso Nacional Unificado (CNU), Dweck ressaltou que o governo buscou aplicar provas que fogem do modelo tradicional baseado na memorização excessiva. “O CNU veio para aumentar a diversidade regional, aumentar a diversidade no serviço público. As pessoas não precisam nascer com vocação, mas podem ser formadas. E você pode usar o período do estágio probatório para despertar nelas essa vocação”, afirmou.
Logo após o debate, a ministra participou do lançamento do livro República em Notas — Vol. 2, da editora Cobogó, com a presença de Ana Pessanha, uma das organizadoras da obra.
Este é o quarto ano consecutivo da Casa República na Flip.