As startups govtech, que têm como propósito oferecer soluções tecnológicas para melhorar a gestão pública, têm se tornado importantes para aumentar a eficiência e estreitar o relacionamento entre governos e cidadãos.
Com soluções que vão desde a automatização de processos internos até aplicativos que permitem a participação direta dos cidadãos nas políticas públicas, esse ecossistema cresceu muito após a pandemia da Covid-19, que acelerou fortemente a migração da gestão pública para o ambiente digital.
O crescimento desse ecossistema é comprovado por um estudo realizado pelo BrazilLab em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Em 2019, cerca de 80 govtechs brasileiras vendiam soluções de maneira consistente para governos ou atuavam em parcerias com o setor público de forma recorrente, e eram poucas as iniciativas de inovação aberta para o setor público.
Desde então, mais de 300 startups, pequenas e médias empresas, foram criadas e passaram a vender ou colaborar com o governo. Também surgiram cerca de 200 iniciativas de inovação aberta ou laboratórios de inovação do setor público.
O avanço dos últimos anos mostra que o ecossistema govtech está num momento consolidado e em crescimento constante. Há oferta qualificada de soluções tecnológicas, demanda crescente por transformação digital nos órgãos públicos e ambiente regulatório adequado.
Todos esses fatores proporcionam a entrada mais assertiva de capital para investir nesse ecossistema. Os próximos anos serão cruciais para estabelecer as bases para a maturidade de um ecossistema govtech em 2030.
Segundo dados da consultoria inglesa Public, o mercado govtech pode se tornar um dos setores digitais mais importantes da economia global, devendo chegar a US$ 1 trilhão até 2025.
Ao menos no que depender dos investimentos, 2023 deve se concretizar como um divisor de águas para as govtechs, e a diferença no valor dos investimentos já é perceptível.
Há seis anos, o investimento médio inicial neste tipo de negócio girava em torno de R$ 200 mil. Foi quando decidi criar uma startup, em 2017, ano em que a expressão govtech ainda começava a ser difundida no Brasil.
No fim de 2020, a primeira rodada de investimento, no valor de R$ 4 milhões, consolidou um novo momento. O crescimento da empresa triplicou e a Aprova se tornou uma das três principais startups do segmento no país.
No fim do ano passado, recebeu novo aporte, o maior já realizado em uma govtech da América Latina. A rodada foi liderada pela Astella e pelo Banco do Brasil, por meio da VOX Capital — gestora do fundo de CVC (corporate venture capital) de impacto do BB —, e teve participação do CAF e da Endeavor, com o programa Scale-Up.
Somente o investimento de US$ 4 milhões (R$ 22,5 milhões) na Aprova representa quase metade da quantia captada por govtechs brasileiras em oito das maiores operações divulgadas desde 2020, no valor de R$ 48 milhões, segundo dados da LAVCA (Association for Private Capital Investment in Latin America) e do Sling Hub.
O fato de estar na mira de investidores é simples de se explicar: eles acreditam que o retorno do ecossistema govtech pode ser melhor do que em outros tipos de investimentos, uma vez que o setor público ainda é bastante desassistido.
Os resultados positivos não impactam apenas o bolso dos investidores: é um mercado “pasta de dente”, sem o qual não se vive e com o qual todos ganham, especialmente a população, haja vista a melhoria dos serviços públicos.
O chamado Governo como Serviço ou Governo como Plataforma emprega o melhor da tecnologia do setor privado para que prefeitos, secretários e servidores aprimorem suas operações gerais e ofereçam aos cidadãos melhores experiências nas mais diversas áreas, como obter um alvará de construção ou abrir uma empresa; registrar uma reclamação no Procon; retirar um cartão de estacionamento para idoso; pagar tributos e impostos sem sair de casa, enfrentar filas ou ter despesas desnecessárias; entre outras.
O objetivo é transformar a América Latina em um continente digital, referência global em serviços públicos autônomos e eficientes nos próximos dez anos. Alcançada a missão de modernizar a gestão pública, será possível proporcionar uma experiência tão eficiente e positiva quanto a já vivenciada (e aprovada) pela população no setor privado.
A nota é de responsabilidade do autor e não traduz necessariamente a opinião da República.org nem das instituições às quais ele está vinculado.