Por Julia Sant’Anna

A pandemia da Covid-19 trouxe para as redes de educação de todo o país desafios enormes. Manter o vínculo entre a escola e o aluno, buscar alternativas para mitigar as perdas trazidas pela suspensão das atividades escolares presenciais, e dar continuidade no processo de ensino e aprendizagem, foram caminhos que tiveram que ser encontrados em tempo recorde. Em um momento de tanta fragilidade, foi fundamental e necessário dar uma atenção especial à gestão de pessoas. Em Minas Gerais houve um cuidado muito grande com os dirigentes de escolas e professores, na gestão das ações, prestando todo o apoio necessário à realização das aulas online e no preenchimento das lacunas existentes. Não foi fácil, mas cada obstáculo que surgiu foi superado e todos aprenderam bastante.

Índice
A reinvenção
Novas dificuldades, novas soluções
Legado dos novos desafios

A reinvenção

O estado de Minas Gerais conta com uma rede de ensino robusta e heterogênea, com 3.600 escolas estaduais distribuídas em mais de 850 municípios. A gestão central da Secretaria de Estado de Educação apoiou os gestores das escolas e professores para que pudessem fazer coisas que nunca haviam sido realizadas. Eles inovaram e se reinventaram.

Professores que jamais se imaginaram ficar de frente às câmeras estiveram lá, e o conteúdo que antes era repassado em uma sala de aula passou a chegar nas salas das casas, nas cozinhas, quartos, ou no ambiente em que o estudante se sentisse à vontade para aprender. No programa de TV “Se Liga na Educação”, transmitido em TV aberta, foram apresentadas quase cinco horas de programação diária e inédita com o objetivo de apoiar alunos e professores. 

Novas dificuldades, novas soluções

Uma das dificuldades apontadas pelos profissionais que participaram do “Se Liga na Educação” foi que, na sala de aula, conseguiam “ler” nos rostos dos alunos se eles estavam compreendendo bem o conteúdo e que, como não tinham esse retorno nas teleaulas, tiveram que reinventar suas aulas, tornando-as ainda mais claras e atrativas.

Um caso emblemático é o da professora Rose Melo, que conta ter se assustado com a repercussão da sua primeira teleaula, e que até pensou em desistir do projeto. Segundo ela, a dimensão do “Se Liga” a deixou apavorada. Com o apoio da equipe e colegas, buscou inovar em suas aulas e desenvolveu um brilhante trabalho à frente das teleaulas de Língua Portuguesa. Esse trabalho de acolhimento foi muito importante para os profissionais da rede estadual. Mostramos que estávamos ali, sempre próximos.

Hoje, Rose relata que cresceu muito a partir das críticas recebidas e, quando vê a primeira teleaula que deu, consegue perceber vários pontos que poderiam ter sido diferentes e tornariam a aula mais interessante. Atualmente, a docente atua na Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores da Secretaria de Educação e ajuda a pensar em cursos de aperfeiçoamento para outros professores.

Legado dos novos desafios

O modelo de oferta de cursos de aperfeiçoamento para os profissionais da educação também é um aprendizado deixado pela pandemia. Neste período, a Escola de Formação cresceu e se aprimorou. Prova disso é que a adesão às formações propostas aumentou muito. Foi percebido que os cursos no formato da Educação a Distância (EaD), híbrido (assíncrono e síncrono) e, principalmente, com tutoria, agradaram aos educadores. Assim, será dada continuidade ao formato.  

Também foram realizadas formações para auxiliar os professores a utilizarem as ferramentas tecnológicas disponíveis. Um dos cursos de maior sucesso foi o de utilização das ferramentas da plataforma Google, com a participação de mais de cem mil profissionais. O curso continua disponível ainda este ano para o servidor que quiser fazê-lo. 

Para 2022, o foco da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais é a retomada das atividades presenciais e o apoio socioemocional aos profissionais. Em um primeiro momento foi feita capacitação interna com a equipe formadora, para que eles pudessem multiplicar os conhecimentos. Agora, será expandida a parceria com o Instituto Península e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e serão capacitados os Especialistas da Educação Básica (EEB), que irão ajudar a cuidar ainda mais dos professores da rede estadual de educação. Também serão ofertadas ações de apoio aos docentes. 

Uma das coisas que todos tiveram que aceitar durante esse tempo é que erros iriam acontecer. Afinal, o erro faz parte do processo de aprendizagem e ajuda a crescer. E também havia a consciência de que teriam que ser superados de forma ágil. Assim foi feito. Essa característica de superação também é um dos legados que a pandemia deixou. Os profissionais não desistiram em momento algum e estão desenvolvendo um trabalho lindo nesta retomada das atividades presenciais. 

Os professores que hoje estão em sala de aula são muito diferentes daqueles que ministravam as aulas antes da pandemia. A tecnologia agora faz parte das ações para deixar as aulas mais dinâmicas. Quem diria que aquele celular, que antes era proibido nas aulas, hoje fica ao lado da caneta, do lápis e do caderno? São coisas assim que não têm mais volta. 

Outro aspecto que fica é a aproximação com as famílias. Hoje, os profissionais conhecem bem mais as histórias dos estudantes. É uma relação que foi para além dos muros da escola. Eles estreitaram os laços e isso está refletido positivamente nas práticas em sala de aula.

Esta nota é de responsabilidade dos respectivos autores e não traduz necessariamente a opinião da República.org nem das instituições às quais os autores estão vinculados.

Julia Sant’Anna
Secretária de Estado de Educação do Governo de Minas. Doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em estudos de desenvolvimento pela University of London. Servidora do Estado do Rio de Janeiro na carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental. Atuou em funções estratégicas e foi subsecretária de Infraestrutura e Tecnologia na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, período em que a rede estadual apresentou expressiva melhoria na qualidade da educação.

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