Entenda por que o Concurso Nacional Unificado é conhecido como “Enem dos concursos” e conheça seus principais pontos em comum com o exame do Ensino Médio

Por Carina Bacelar — Especial para a República.org

ATUALIZAÇÃO EM 3/5/2024 — O governo federal adiou a prova do Concurso Nacional Unificado, originalmente marcada para 5 de maio. A decisão foi tomada em razão de fortes chuvas no Rio Grande do Sul. Segundo pronunciamento da ministra Esther Dweck, será anunciada uma nova data.

Desde que foi anunciado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o Concurso Nacional Unificado vem sendo apelidado de “Enem dos concursos”, uma alusão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que nos últimos anos vem substituindo o vestibular tradicional em muitas universidades brasileiras – e em especial, nas instituições públicas.

Afinal, essa comparação faz sentido? Que pontos de aproximação o edital do “Enem dos concursos” tem como o exame anual do Ensino Médio?

Para esclarecer essa questão, a República.org analisou os principais pontos de aproximação e divergência entre os dois exames. De acordo com Helena Wajnman, economista e diretora-executiva da organização, a comparação não só faz sentido como ajudou na divulgação do novo modelo.

“Acho que foi uma boa sacada, e não há outra avaliação nacional em grande escala que se possa comparar ao CNU que não seja Enem. Ambos são operações gigantes, portas de entrada para universidades e para o serviço público. A comparação foi um acerto do ponto de vista de comunicação, porque fez com que as pessoas entendessem muito facilmente como funcionaria o concurso”, destaca.

Provas em um único dia, em vários locais

Assim como no Exame Nacional do Ensino Médio, o Concurso Nacional Unificado propõe a realização de provas em uma data unificada dia (5 de maio), em detrimento da aplicação de dezenas de provas diferentes, em diferentes localidades, para o preenchimento de cada cargo. A diferença é que, nos últimos anos, as provas do Enem vêm sendo aplicadas ao longo de dois dias.

Ao mesmo tempo, tanto o Enem quanto o Concurso Nacional Unificado têm uma proposta parecida no que se refere à capilaridade dos locais de prova. Em 2023, o Enem foi aplicado em 1.750 municípios de todos os 27 estados. O Concurso Nacional Unificado terá provas em 220 municípios.

Nos dois casos, a ideia é que as vagas se tornem menos concentradas em alguns poucos centros, e possam ser acessadas por pessoas de todo o país. Antes da reformulação das provas do Enem e da instituição do Sisu, em 2010, um candidato a vagas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, precisaria viajar para o estado para realizar a prova e ter a chance de ingressar em algum curso.

Agora, estudantes de qualquer cidade, de qualquer região do país, têm a chance de aprovação realizando a prova na menor distância possível. A mesma lógica se aplica ao Concurso Nacional Unificado: um candidato do Amazonas, por exemplo, poderá ser aprovado para uma vaga em Brasília sem gastar recursos com hospedagem e voos até o local da prova.

Várias vagas em um concurso

Outro aspecto em comum com o Enem é que os candidatos têm a oportunidade de, a partir da realização de uma mesma prova, concorrer a diferentes vagas. No caso do Enem, essa concorrência é ilimitada, e o candidato pode, a partir da inscrição no exame, concorrer a vagas em qualquer curso, de qualquer localidade.

No CNU, por sua vez, os candidatos escolheram, no ato da inscrição, um dos oito blocos, cada um compreendendo um conjunto de carreiras. Carreiras que exijam apenas a conclusão do Ensino Médio estão concentradas no bloco 8. Dessa forma, ao realizar a prova, os candidatos só podem concorrer às vagas disponíveis no bloco escolhido.

Não há outra avaliação nacional em grande escala que se possa comparar ao Concurso Nacional Unificado que não seja Enem. Ambos são operações gigantes, portas de entrada para universidades e para o serviço público.

Helena Wajnman, diretora-executiva da República.org

Prova com questões em comum e pesos diferentes

Nesse assunto, há similaridades e divergências importantes entre as duas provas.

No Enem, as provas são idênticas para todos os candidatos – apenas a ordem das questões é alterada para evitar “cola”. O valor das questões não é igual (depende do seu grau de dificuldade, pré-definido pela banca), e o peso dos acertos em cada área do conhecimento pode ser diferente, a depender do curso escolhido no Sisu. Se for um candidato de Medicina, por exemplo, é provável que a instituição de ensino tenha definido peso maior para a prova de “ciências da natureza e suas tecnologias”, que compreende Biologia, Química e Física.

Vale lembrar que no Enem não há “prova específica” para cada carreira, e as questões são todas de múltipla-escolha, com uma redação.

Já no Concurso Nacional Unificado, há uma prova de conhecimentos gerais comum aos blocos 1 a 7, e outra prova de conhecimentos gerais para o Bloco 8 (que não exige ensino superior). Diferentemente do Enem, cada bloco tem uma prova específica, com os conhecimentos mais importantes para os cargos em disputa.

Dentro das provas específicas de cada bloco, haverá uma divisão em cinco eixos temáticos. Para o rankeamento em cada cargo, a distribuição de pesos é diferente entre as questões de cada um dos eixos. Assim, os candidatos vão ter notas diferentes para cada carreira, de acordo com seu desempenho nas questões de cada eixo temático.

Cotas e isenção

Assim como no Enem, o Concurso Nacional Unificado tem uma política de cotas e de isenção da taxa de inscrição para alguns candidatos. As políticas de cotas vão ser aplicadas por especialidade (vagas com o mesmo curso superior exigido) dentro de cada bloco. Pessoas com deficiência terão reservadas 5% das vagas. Pessoas negras terão direito a 20% das vagas. Indígenas terão acesso a 30% das vagas das especialidades dos cargos da Funai.

Já a isenção do CNU cobre 100% do valor, e foi requerida pelos candidatos no momento da inscrição. Tinham direito à isenção os inscritos no cadastro único para programas sociais do governo federal (CadÚnico), doadores de medula óssea, bolsistas e ex-bolsistas do Programa Universidade para Todos (Prouni) e quem cursou ou cursa o ensino superior por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES).

Já no Enem, têm direito à isenção todos os candidatos matriculados na 3ª série do ensino médio do ano de aplicação da prova, em escola da rede pública declarada ao Censo Escolar, quem cursou todo o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola privada, além de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica com registro no CadÚnico.

Volume de inscrições

Na comparação, o volume de inscritos para o Enem (mais de 4 milhões) é superior à quantidade registrada para o Concurso Nacional Unificado (mais de 2,1 milhões).

Vale ressaltar que essa comparação só faz algum sentido se considerarmos não a prova do Enem em si, criada em 1998, mas a versão do Enem como prova de ingresso no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), criado em 2010.

Foi só a partir da criação do Sisu que o Exame Nacional do Ensino Médio ganhou um novo formato, e passou a garantir a entrada de estudantes em diversas universidades públicas brasileiras a partir de um sistema de rankeamento unificado, para candidatos de todo o país.

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