Artigo por Helena Wajnman

Com a recente realização do Concurso Público Nacional Unificado, que despertou o interesse de mais de dois milhões de candidatos em todo o Brasil, essa questão ganha destaque. Mas ela não se aplica apenas aos novos integrantes: envolve também aqueles que atualmente ocupam cargos no serviço público. Diante da maior onda de ingressos no setor em anos, este é um bom momento para ponderarmos sobre as qualidades e competências que definirão os servidores públicos de amanhã.

Espera-se que os candidatos às vagas no setor público tenham verdadeira vocação e comprometimento com o serviço à população. Que enxerguem sua função não como um emprego com estabilidade garantida, mas como uma oportunidade de serem agentes de transformação em um grupo de quase 12 milhões de servidores (federais, estaduais e municipais) dedicados a atender mais de 200 milhões de brasileiros.

Em relação ao futuro, é vital que esses profissionais possuam e aprimorem habilidades como criatividade, pensamento crítico, liderança e adaptabilidade, e demonstrem uma capacidade contínua de aprender e conectar diferentes áreas do conhecimento. Considerando que 80% das crianças e dos adolescentes brasileiros estudam em escolas públicas e 74% dependem exclusivamente do sistema público de saúde, o papel dos servidores públicos é vital para o desenvolvimento do país e a diminuição das desigualdades sociais.

Espera-se que os candidatos às vagas no setor público tenham verdadeira vocação e comprometimento com o serviço à população. Que enxerguem sua função não como um emprego com estabilidade garantida, mas como uma oportunidade de serem agentes de transformação.

De outro lado, espera-se do governo uma gestão eficiente de seu principal recurso: as pessoas. As carreiras públicas precisam de reformas para permitir maior flexibilidade, em resposta às expectativas das novas gerações e às mudanças trazidas pela tecnologia. É necessário também reduzir as discrepâncias salariais e eliminar salários acima do teto constitucional.

Um sistema efetivo de avaliação de desempenho deve ser implementado para reconhecer e recompensar contribuições excepcionais, assim como para ser possível lidar com desempenhos aquém do esperado, com vistas à melhoria e ao crescimento profissional. Além disso, é fundamental promover incentivos para que os profissionais de alto desempenho assumam posições de liderança. A diversidade brasileira também deve ser valorizada em nossa burocracia, já que as pessoas trazem consigo contextos e visões de mundo únicos, o que enriquece as atividades de desenho, implementação e monitoramento de políticas públicas.

Os concursos públicos, principais meios de ingresso no setor, também precisam ser aprimorados. Apesar dos avanços com o Concurso Unificado, é preciso desenvolver métodos para avaliar competências além das provas objetivas, como a vocação para o serviço público, sem comprometer a imparcialidade do processo seletivo.

Que a chegada de 6.640 novos profissionais públicos seja um marco para o florescimento de servidores comprometidos e que o governo aproveite este momento para implementar as reformas necessárias a fim de tornar isso uma realidade.

Sobre a autora

Diretora-executiva da República.org, Helena Wajnman é graduada em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Dados, Economia e Políticas de Desenvolvimento pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Inscreva-se na nossa newsletter