Literatura e serviço público: Stênio Gardel discute relação entre escrita e vida pública na Casa República

Publicado em: 12 de outubro de 2024

Vencedor do National Book Award conta como a vivência no serviço público inspira sua literatura e contribui para o debate sobre diversidade e democracia

Stênio Gardel é vencedor do National Book Awards, uma das premiações mais importantes da literatura nos EUA. Foto: Douglas Shineidr.

PARATY — No terceiro dia da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), a Casa República sediou uma marcante discussão sobre vida pública e produção literária na mesa “Ele é funcionário”, realizada neste sábado, 12 de outubro.

O servidor público e escritor Stênio Gardel, vencedor do National Book Award 2023 pelo romance A palavra que resta (ed. Companhia das Letras), e o médico Bruno Barbosa, mestre em Letras, compartilharam com o público as experiências que ligam a carreira de Gardel no serviço público ao exercício criativo da escrita.

A vivência no TRE e a construção de A palavra que resta

Servidor do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Ceará, Gardel destacou como seu trabalho na Justiça Eleitoral influenciou a criação do romance A palavra que resta. “Trabalhar no dia em que as pessoas escolhem o futuro delas me fez refletir sobre o papel do servidor na democracia”, afirmou. Ele também mencionou os desafios enfrentados pelos servidores do TRE durante o período de desconfiança em torno das urnas eletrônicas: “fomos colocados sob desconfiança, com alegações de fraude que tornaram nosso trabalho muito mais difícil”.

Gardel compartilhou como sua vivência profissional também inspirou aspectos do personagem Raimundo Gaudêncio, protagonista do livro, que é analfabeto e carrega uma carta não lida por cinquenta anos. “No primeiro capítulo, o personagem escreve o nome pela primeira vez, algo que me marcou durante meu trabalho no TRE ao ver pessoas que não sabiam assinar o nome votando. A história traz essa reflexão sobre como as pessoas, mesmo sem educação formal, constroem suas vidas com dignidade”, explicou.

Bruno Barbosa (à direita) é curador do clube de leitura “Livros e Outros Remédios”. Foto: Douglas Shineidr.

Ele ressaltou que, ao lançar o livro em meio a um período de polarização e intolerância, sentiu que a obra oferecia uma mensagem de resistência: “enquanto a ideologia de ultra direita crescia, meu livro veio para mostrar respeito às diferenças”.

Serviço público e a liberdade para escrever

Gardel ainda comentou como o serviço público proporcionou a estabilidade financeira necessária para se desenvolver como escritor. “O trabalho no serviço público me deu tranquilidade para pagar pelos cursos, comprar livros e me sustentar enquanto escrevia. Comecei o livro durante minhas férias, acordando cedo para escrever”, relatou.

Para Bruno Barbosa, A palavra que resta surge como um sopro de esperança em um contexto de ataques à população LGBTQIAP+ nos últimos anos. “Seu livro veio como um alívio, porque a população LGBT sofreu muitos ataques no último governo”, disse o médico ao servidor.

Stênio Gardel na Casa República, na Flip 2024. Foto: Douglas Shineidr.

A Casa República conta com curadoria de Daniela Pinheiro e é realizada pelas organizações República.org e Samambaia.org, pela produtora Matizar Filmes e pelo Museu Vassouras. A iniciativa é um espaço de discussões sobre os desafios contemporâneos e a importância do serviço público para o desenvolvimento do país.

Próximas mesas discutem cinema e tributação

O encerramento das discussões na Casa República conta com a mesa “Quem é o pato que paga o pato?”, que debate a carga tributária no Brasil com a participação de Daniel Loria, diretor da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária, da economista Cecília Machado e da jornalista Ana Flor, às 17h.

Às 20h, a mesa “Retratos de uma certa adaptação” coloca lado a lado o escritor Milton Hatoum, o diretor Marcelo Gomes e a jornalista Melina Dalboni para discutir os desafios e nuances de adaptar obras literárias para o cinema, com foco no filme Retrato de um certo oriente.

Para completar, a última exibição de Retrato de um certo oriente ocorre no Cinema da Praça neste domingo (13), às 14h. A adaptação, que narra a história de uma família de imigrantes libaneses em Manaus (AM), mergulha em memórias e identidades familiares.

Serviço

Casa República na Flip 2024
Data: 10 a 13 de outubro.
Local: Rua Dona Geralda, 25, Paraty.
Exibições do filme Retrato de Um Certo Oriente: Cinema da Praça (R. Mal. Deodoro, 3, Centro Histórico).
Entrada gratuita.

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