Professora Pâmela Carpes afirma que é comum as enchentes em Uruguaiana e que pessoas serem deslocadas é algo periódico

Por Eugênia Lopes — Especial para República.org

A cheia do rio Uruguai tirou milhares de pessoas de casa em Uruguaiana (RS). Foto: Lorena Menezes/Prefeitura de Uruguaiana.

Surpreendida pelas chuvas no Rio Grande do Sul, a servidora e neurocientista Pâmela Billig Mello Carpes viveu uma epopeia para conseguir sair de São Paulo e chegar à sua casa, em Uruguaiana, no início de maio. No vai e vem da remarcação de voos, e com o aeroporto de Porto Alegre fechado, Pâmela chegou a comprar quatro passagens diferentes e tentou voltar para casa por Passo Fundo, que fica a 560 quilômetros de Uruguaiana, e até por Buenos Aires, a 676 quilômetros de sua residência.

“Foi um desespero”, resume Pâmela, vencedora do Prêmio Espírito Público, em 2019, na área de Educação, com o projeto “POPNeuro”.

Terceira entrevistada da série “Linha de Frente”, da República.org, sobre o papel dos servidores públicos na reconstrução do Rio Grande do Sul, a servidora mora em Uruguaiana há 15 anos e conta que as enchentes do Rio Uruguai, que banha a cidade, são comuns. “Para nós, infelizmente não é uma novidade a enchente. A população ribeirinha de Uruguaiana praticamente todos os anos tem um período em que precisa ser deslocada de suas casas e ficar em abrigos. Infelizmente, isso é de certa forma frequente”, diz a professora da Unipampa (Universidade Federal do Pampa), ao constatar que a cidade já enfrentou enchentes piores.

Apesar de habituados às cheias, Pâmela observa que os uruguaianenses ficaram abalados com a proporção da catástrofe climática, que atingiu praticamente todos os municípios gaúchos. “O Rio Grande do Sul, como um todo, está passando por um período de sofrimento psicológico muito grande. Parece que a gente não consegue vislumbrar o fim disso tudo”, afirma. Nesse sentido, ela destaca o papel do servidor público na reconstrução do estado.

“O servidor público, mais do que qualquer um, tem um compromisso com a sociedade muito grande. Como o próprio nome diz, nós somos servidores da sociedade, servidores públicos. Então a gente tem o compromisso de pensar como cada um com sua expertise pode contribuir nesse processo”, pondera Pâmela.

Solidariedade e apoio emocional

Ela cita o trabalho dos servidores das universidades que, nas duas primeiras semanas de maio, ficaram sem aulas. “Praticamente toda a comunidade acadêmica acabou envolvida com ações para tentar auxiliar as pessoas atingidas pelas enchentes”, conta a servidora.

Coordenadora do projeto “PopNeuro”, com ações para melhorar a memória e aprendizagem de crianças no ambiente escolar, a professora levou as atividades do programa para os quatro abrigos de Uruguaiana.

O servidor público, mais do que qualquer um, tem um compromisso com a sociedade muito grande.

Pâmela Carpes, professora da Universidade Federal do Pampa (RS).

“Nosso foco de ação é divulgar neurociência e como o cérebro aprende. Grande parte do nosso público são as crianças de escolas públicas, que estavam nos abrigos. Então pedimos doações para montar kits de atividades para as crianças e levar aos abrigos”, diz. Foram 140 kits com cadernos de desenho, de cruzadinha, de pintar, colorir, lápis de cor, lápis de cera e massa de modelar. “Esse tipo de situação tem um impacto muito grande sobre as crianças, que não entendem muito o que está acontecendo”, observa a professora. O centro de pesquisa de neurociência da aprendizagem também produziu material com dicas de como dar apoio emocional aos atingidos pela catástrofe climática.

Servidora pública há 15 anos, Pâmela criou o programa “PopNeuro”: ações para divulgação e popularização da neurociência nos colégios da região de Uruguaiana. Um dos objetivos do projeto é quebrar o estereótipo de que mulheres não podem fazer ciência. A servidora pública busca estimular o caminho da pesquisa e da ciência para as estudantes e, assim, superar o desequilíbrio de gênero nessas áreas.

Trajetória

Pâmela Carpes é servidora pública e neurocientista. Foto: Divulgação.

Natural de Cruz Alta (RS), Pâmela mora em Uruguaiana desde 2009, quando fez concurso público para a Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Casada, 40 anos, e mãe de um menino de 19 anos, antes de ir para Uruguaiana, a servidora pública cursou pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. “O local onde eu morava em Porto Alegre estava debaixo d’água”, lamenta.

Filha de professores universitários, Pâmela nunca imaginou que iria trilhar o mesmo caminho dos pais e se apaixonar pelo serviço público. Professora Associada da Unipampa, ela leciona Fisiologia nos cursos da área da Saúde e também é diretora de Relações Internacionais da instituição.

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