Um estereótipo corriqueiro no imaginário popular é o do servidor que foi indicado para exercer determinada função comissionada e o faz com o mínimo esforço e até certo desleixo – tendo a certeza de que não será exonerado, já que está lá por indicação. Este é o pior dos mundos, e quero crer que não é a regra em nosso país. De forma contraintuitiva, diria que as chances de um comissionado enquadrar-se neste estereótipo são menores até mesmo do que as de servidores concursados, que têm estabilidade. Explico: embora servidores concursados também sejam alvos de uma série de estereótipos nesse sentido, cargos comissionados coexistem com a precariedade, com a possibilidade de livre exoneração, o que os afasta ainda mais dessa pré-concepção da sociedade.

É necessário reconhecer, porém, que a confiança é o elemento básico. No Legislativo, esse elemento está normalmente atrelado ao parlamentar eleito, que possui suas visões sobre os mais variados temas e precisa de uma equipe para levá-las adiante. Há, certamente, “maus” parlamentares que contratam pessoas – e podem mantê-las mesmo com desempenho ruim. No entanto, me proponho a falar sobre o que seriam os “bons” parlamentares.

Conforme dados do Tribunal de Contas da União, o Poder Legislativo possui 79,41% dos servidores ocupando função comissionada ou cargo comissionado – sendo que, destes, o percentual de servidores não concursados para o próprio legislativo é de 97,26%. Estamos falando, portanto, de um contingente de centenas de milhares de pessoas nos níveis municipal, estadual e federal que, frequentemente, não aparecem nos mapas do funcionalismo público e que se modificam significativamente a cada eleição

O Legislativo depende de construção coletiva, ou seja: para que a ideia de um parlamentar prevaleça, deve haver o convencimento dos outros. Nesse sentido, frequentemente o representante eleito se vê na posição de quem precisa articular, ceder e argumentar, sendo necessária uma equipe alinhada ideologicamente com as medidas propostas.

Para funções mais básicas e operacionais, a simples existência de um vínculo de confiança com o servidor indicado pode ser suficiente. Todavia, quanto mais refinado e exigente for o papel a desempenhar, maior a necessidade de um feixe de características que combinem opiniões, capacidade técnica e boa comunicação.

Conforme dados do Tribunal de Contas da União1, o Poder Legislativo possui 79,41% dos servidores ocupando função comissionada ou cargo comissionado – sendo que, destes, o percentual de servidores não concursados para o próprio legislativo é de 97,26%. Estamos falando, portanto, de um contingente de centenas de milhares de pessoas nos níveis municipal, estadual e federal que, frequentemente, não aparecem nos mapas do funcionalismo público e que se modificam significativamente a cada eleição.

De minha parte, tanto nesta quanto nas notas seguintes, trago uma perspectiva “do lado de dentro”, com experiência nos três níveis, com o propósito de ir além do trivial. A confiança está, sim, na essência destas posições, mas em cada contexto existem peculiaridades cujo conhecimento pode ser de alguma utilidade ao leitor que pretende seguir por esse caminho.

Referências Bibliográficas

A dissertação foi sobre o que nomeei como “cisnes negros eleitorais” – fatos singulares e imprevisíveis que ocorrem durante a campanha e influenciam o pleito de forma decisiva.
1 https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A1561E426001569F667D3F7138

Victor Rorato

Em 2023, como bolsista do Instituto República, concluí mestrado em políticas públicas na Hertie School em Berlim, tendo cursado parte deste na Universidade de Tóquio. Minha formação original é em Direito pela UFSC, tendo atuado como advogado durante três anos e depois como assessor parlamentar na Câmara de Vereadores de Florianópolis, Assembleia Legislativa de Santa Catarina e Câmara dos Deputados - onde me encontro agora.

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